... Ou porque não gosto de Vivaldi.
Adoro a Primavera, com os seus campos a encherem-se de pequenas flores amarelas, vermelhas e branca, todas a libertarem o seu pólen em uníssono, como uma bela sinfonia. Adoro os olhos brilhantes da emoção de mil pós no ar, os belos insectos rastejantes que eclodem dos seus refúgios de Inverno aos milhares. Adoro ver casais de adolescentes afogados em beijos de náufragos em cada esquina do passeio, numa orgia de fluidos e hormonas libertadas pelo aumento de temperatura e pela diminuição de pano a cobrir a pele. Adoro as gordurinhas acumuladas do Inverno que se exibem orgulhosas em cada refego da roupa, a tortura sem fim de horas de ginásio para preparar a entrada nos biquínis que se escondem no fundo das gavetas.
Adoro o Verão, o sol tórrido e escaldante a reflectir-se nos milhares de quilómetros de cimento e asfalto que nos cobrem, a pele a tostar temperada por rios de suor que nos escorre de cada centímetro do corpo. Adoro o cheiro a transpiração em cada transporte público que nos leva à tortura de trabalhar à mesma temperatura em que os outros mamíferos escolhem dormir ao fresco. Adoro as filas intermináveis até à praia mais próxima, estar mais perto do desconhecido na toalha ao lado do que estaria da minha própria família, os tachos com arroz de frango a cozinhar debaixo do chapéu de sol, as crianças aos gritos por quererem/não quererem ir para a água. Adoro os cães gigantes que correm livremente, os bandos de energúmenos a jogar desportos com bola e a perderem litro de baba enquanto controlam as babes que passam a rebolar a tatuagem no fundo do rabo. Adoro poder fugir a tudo isto e refugiar-me em florestas a arder, esperando a minha vez de sufocar.
Adoro a doçura do Outono, a papa de lama e folhas que nos enche os pés e o fundo das calças, a água que cai dia e noite. Adoro as varetas dos chapéus que aparecem de surpresa ao virar da esquina, só para nos espetar o olho que estava mais à mão. Adoro andar de impermeável, tudo estar castanho e a definhar à nossa volta, os carros que deslizam suavemente nas poças de óleo acumulado por um verão demasiado rigoroso, o vento que ressuscitou apenas para nos temperar de ramos decrépitos de velhas árvores que teimam em cair, e lançar-nos à cara os sacos de plástico que conscienciosamente fomos deitando ao chão.
Adoro o Inverno, sentir as mãos geladas por dentro das luvas, o nariz que pode partir se alguém lhe tocar. Adoro o binómio frio-calor:frio-calor:frio-calor porque passamos todo o dia graças às maravilhas tecnológicas da climatização de interiores. Adoro sentir os pulmões esforçarem-se por respirar o ar que nos corta, o deixar de falar por não sentir o lábio superior, ter o dobro do volume por causa dos camisolões. Adoro os milhões de vírus que nos visitam todos os anos, que partilhamos alegremente apenas pela bondade do nosso coração e falta de civilidade nasal.
Adoro as Quatro Estações.
Adoro as Quatro Estações.
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