segunda-feira, maio 07, 2007

Sinergias

“Era capaz de amar este rabo casca de laranja”, disse ele enquanto deslizava as mãos pelas coxas que ela trazia molhadas do banho. “Era capaz de amar este pneuzinho na barriga”, disse ele enquanto afastava a toalha e acariciava o umbigo. Ela sorria, combatendo o instinto que sempre tinha de se cobrir, esconder a vergonha entre camadas de tecido. Ele virou-a mais para si e continuou a guardá-la nas palmas das mãos. “Amo estas coxas grossas, estes seios pequenos, estas mãos doces”.
Ela sorria, uma esperança renovada nos olhos tristes de muitas vidas.
“Sabes, dizem que o todo é mais que a soma das partes, amor. Mas no teu caso cada parte é um todo infinito.”

sábado, março 24, 2007

... Ou porque não gosto de Vivaldi.

Adoro a Primavera, com os seus campos a encherem-se de pequenas flores amarelas, vermelhas e branca, todas a libertarem o seu pólen em uníssono, como uma bela sinfonia. Adoro os olhos brilhantes da emoção de mil pós no ar, os belos insectos rastejantes que eclodem dos seus refúgios de Inverno aos milhares. Adoro ver casais de adolescentes afogados em beijos de náufragos em cada esquina do passeio, numa orgia de fluidos e hormonas libertadas pelo aumento de temperatura e pela diminuição de pano a cobrir a pele. Adoro as gordurinhas acumuladas do Inverno que se exibem orgulhosas em cada refego da roupa, a tortura sem fim de horas de ginásio para preparar a entrada nos biquínis que se escondem no fundo das gavetas.
Adoro o Verão, o sol tórrido e escaldante a reflectir-se nos milhares de quilómetros de cimento e asfalto que nos cobrem, a pele a tostar temperada por rios de suor que nos escorre de cada centímetro do corpo. Adoro o cheiro a transpiração em cada transporte público que nos leva à tortura de trabalhar à mesma temperatura em que os outros mamíferos escolhem dormir ao fresco. Adoro as filas intermináveis até à praia mais próxima, estar mais perto do desconhecido na toalha ao lado do que estaria da minha própria família, os tachos com arroz de frango a cozinhar debaixo do chapéu de sol, as crianças aos gritos por quererem/não quererem ir para a água. Adoro os cães gigantes que correm livremente, os bandos de energúmenos a jogar desportos com bola e a perderem litro de baba enquanto controlam as babes que passam a rebolar a tatuagem no fundo do rabo. Adoro poder fugir a tudo isto e refugiar-me em florestas a arder, esperando a minha vez de sufocar.
Adoro a doçura do Outono, a papa de lama e folhas que nos enche os pés e o fundo das calças, a água que cai dia e noite. Adoro as varetas dos chapéus que aparecem de surpresa ao virar da esquina, só para nos espetar o olho que estava mais à mão. Adoro andar de impermeável, tudo estar castanho e a definhar à nossa volta, os carros que deslizam suavemente nas poças de óleo acumulado por um verão demasiado rigoroso, o vento que ressuscitou apenas para nos temperar de ramos decrépitos de velhas árvores que teimam em cair, e lançar-nos à cara os sacos de plástico que conscienciosamente fomos deitando ao chão.
Adoro o Inverno, sentir as mãos geladas por dentro das luvas, o nariz que pode partir se alguém lhe tocar. Adoro o binómio frio-calor:frio-calor:frio-calor porque passamos todo o dia graças às maravilhas tecnológicas da climatização de interiores. Adoro sentir os pulmões esforçarem-se por respirar o ar que nos corta, o deixar de falar por não sentir o lábio superior, ter o dobro do volume por causa dos camisolões. Adoro os milhões de vírus que nos visitam todos os anos, que partilhamos alegremente apenas pela bondade do nosso coração e falta de civilidade nasal.
Adoro as Quatro Estações.

segunda-feira, março 12, 2007

12 de Março

Mais um aniversário. Já são 32. Este ano um bocadinho ensombrado pelo falecimento do meu avô há cerca de mês e meio. Mais ainda pela situação de precaridade em que isso deixou a minha familia.
Mas também há coisas boas nesta entrada num novo ano. Tenho um trabalho, com contrato de um ano, outras coisas se podem perspectivar no horizonte, e tenho confiança que Deus nos pode dar uma ajuda. E agora com mais um anjo a pedir por nós.
Obrigada a todos os que têm vindo até aqui, mesmo com o blog inactivo por tanto tempo. A verdade é que estive sem vontade de escrever. Mas isso vai mudar, e espero retomar a escrita e o blog.

sábado, fevereiro 10, 2007

Para quem tem vindo até aqui...

... este blog está de luto. Espero conseguir voltar a escrever em breve, mas de momento ainda não me sinto com condições.
Até breve.

sábado, dezembro 30, 2006

2007

Não gosto do fim de ano, com as suas festas forçadas, com o divertimento por obrigação a que todos nos entregamos. Nunca gostei. Quando era miúda pequena, o que mais me lembro é de estar à janela, a ver o divertimento dos outros, as festas nas casas dos vizinhos. Queria ser crescida e poder divertir-me como eles, ir a festarolas onde todos são felizes. Depois finalmente cresci o suficiente para poder ir festejar com os meus amigos, longe de casa. Houve alguns fins de ano com piada, normalmente aqueles cujo teor de sangue no álcool não deixava sequer perceber a passagem da meia-noite, mas essa euforia depressa se desvaneceu.
Nos últimos anos esta altura tem sido essencialmente uma tortura. Nas fases mais depressivas só me apetecia esconder debaixo da cama e ignorar que o tempo passa e avança e só a minha vida não.
Este ano estou tranquila, animada, embalada pelas recentes alterações e agitações que me têm ocorrido. Mas continuo a detestar o fim de ano, altura de balanço forçado, de ponderar o que temos e não temos, onde chegámos e ficámos, os becos sem saída e as auto-estradas que se nos apresentam. Por isso espero iludir habilmente todos os convites, e ficar de pijaminha a ver o Dança Comigo.
Não fiz resoluções de fim de ano, não gosto de passas e não me obrigo a comê-las só para pedir desejos irrealizáveis, não faço votos nem pedidos para 2007. O meu único pedido é poder chegar a 2008 com todos os que ainda tinha em 2006.
Para vocês, votos de muita diversão, alegria, felicidade, saúde e etcs. Não apenas numa noite, mas em todas.

segunda-feira, dezembro 25, 2006

Feliz Natal a Todos

Este Natal recebi 2 embalagens de gel de banho, um shampoo, um amaciador, e 3 cremes hidratantes. Será que os meus amigos me querem dizer alguma coisa?

quinta-feira, dezembro 21, 2006

Será demasiado tarde...

... para deixar aqui a minha lista de prendas para este Natal? Então aqui vai as coisas que eu precisava/gostava:
- Uma carteira bem feminina e grandona para meter a minha papelada e cartões.
- Uma mala flexivel e toda fashion
- Um telemóvel novo
E há muita coisa a agradecer ao Menino Jesus também, já que este será o Natal, em alguns anos, que eu passo mais animada e com um sorriso nos lábios.

terça-feira, novembro 28, 2006

shiuuuu...

Tu que me escutas, pára, senta-te e reflecte. Fecha os olhos, respira fundo várias vezes, acalma o ímpeto que te preenche. Sossega um pouco das lutas diárias, dos combates eternos, da sobrevivência que te consome.
Senta-te e não escutes nada a não ser o som da tua própria respiração. Concentra-te nos movimentos enquanto esvazias a tua mente dos problemas do dia-a-dia, das vozes internas que te ensurdecem e não te deixam ouvir mais nada.
Quando já tiveres a mente vazia, o coração leve, escuta devagar o que te rodeia. Consegues ouvir aquele sussurro mesmo por trás da tua orelha direita? Aquele murmúrio ritmado e consolador, mesmo nas tuas costas?
Esse som leve e suave é a oração do teu Anjo da Guarda, e esse é o seu trabalho principal. Ele segue-te por todo o lado, rezando sempre para que Deus não te deixe cair. Percorre todos os caminhos, todas as veredas que tu calcorreias todos os dias. Aflige-se contigo quando sofres, chora por ti quando cais, alegra-se e agradece ao Senhor quando és feliz. Canta todos os dias pelo milagre de acordares, e pede a toda a natureza que o acompanhe. A única coisa que não faz é bater palmas. Esse é o teu trabalho, aclamar cada dia que passa com alegria por estares vivo.

sexta-feira, novembro 10, 2006

Telex

Muito trabalho no emprego. Stop.
Sucessivas greves de metro. Stop
Mais 4 horas de curso de jornalismo à noite. Stop.
Chegar quase à meia-noite todos os dias. Stop.
Ando exausta. Stop.
Volto em breve. Stop.

terça-feira, outubro 31, 2006

Apelo/Reclamação

Estou farta e cansada. É que não se aguenta a enchente, o desconforto logo de manhã, o chegar atrasada se não se sair com imensas horas de avanço. E afinal de contas reivindica-se o quê?
Lisboetas, juntem-se todos e façam greve ao Metro. Vamos virar o jogo a nosso favor, escolher um dia em Novembro em que ninguém põe os pés no Metro, a ver se eles gostam!!! Mas é que nem unzinho lá entra. E põe-se gente às portas para avisar os turistas incautos, um piquete contra os fura-greves.
Por isso vamos decidir a data e GREVE NISSO!!! Ninguém paga um bilhetinho que seja, os metros hão-de andar para o boneco, a ver se gostam!!! Tenho dito!

segunda-feira, outubro 30, 2006

A emissão prossegue dentro de momentos

Esperemos.
Pois é, tenho andado ainda em fase de adaptação ao empreguinho, muita aprendisagem, muito computador durante o dia todo. Espero voltar às lides da escrita o mais rápido possíve, e partilhar mais textos com vocês.
A todos os que têm paciência de esperar, agradeço, a todos os que me mandam dar uma curva... também. :)

domingo, outubro 08, 2006

Noé II

Noé era rei e senhor da sua Arca. Mandava, punha e dispunha, disciplinava os seus casais de feras selvagens. Deus tinha-lhe incumbido essa tarefa, enquanto ele próprio tratava das fúrias dos ventos e mares, do extermínio dos infiéis e da maldade do mundo, para purificar o coração dos homens.
E enquanto o mundo desabava cá fora, os oceanos lambiam nervosamente vastas extensões de terra e tudo rugia intensamente, Deus tinha uma mão protectora sobre a Arca dos seus escolhidos.
E lá dentro tudo desabava também. As serpentes deixavam toda a gente nervosa, com os seus modos reptilineos e dissimulados, os rinocerontes levavam tudo à sua frente, para os hipopótamos nunca nada estava bem feito. Os leões começavam a estar fartos de se alimentarem de fardos de palha, e tinham demorado um pouco a perceber que o compartimento dos ruminantes não era a sua dispensa privada. Infelizmente o Noé não tinha chegado a tempo de impedir o extermínio dos Dodos, pois quando lá chegou nada mais restava que umas penas a esvoaçar pelo ar, e uma patita espreitava ainda no meio dos dentes de sabre dum belo tigre asiático.
O pior era como ocupar os tempos mortos de tanta bicharada. Noé e a sua família estavam sempre ocupadíssimos com toda a manutenção da embarcação, e com a hercúlea tarefa de manter os animais felizes. Mas para estes era mais complicado. Os grandes bisontes das estepes, e os seus primos das savanas ressentiam-se muito com a falta de exercício, e as longas horas de bridge no convés já não chegava para os animar. Os ratos e outros roedores tinham um circuito de manutenção próprio, labiríntico, e os seus amigos felinos tinham um mesmo ao lado, com vista privilegiada, estando assim numa perseguição perpétua, que não levava a lado nenhum.
Mas nenhum sofria tanto como o casal de elefantes, encolhidos num canto demasiado pequeno, sem poderem caminhar alegremente, sob pena de partirem as tábuas da Arca. Esses passavam o tempo a ler livros antigos, estudar os mapas da nova Terra, a imaginar como seria o novo sítio onde iriam viver. E nos dias mais agitados, com mar mais revolto e Deus mais irado, os bichos mais pequenos iam fazer-lhes companhia, aproveitando o apoio seguro das suas patas fortes e carnes rijas, e ouvir as histórias de fantasia que eles tinham aprendido nos livros.

terça-feira, setembro 26, 2006

Instantaneos

Era tão bonita a dormir, com aquele ar de anjo sonhador. Nem parecia a mesma de durante o dia, carregada de preocupações, a gritar com ele a cada passo que dava. Porque era um desarrumado, porque não sabia controlar o dinheiro e as contas, porque ainda não tinha deixado de fumar, porque nunca ia pôr o lixo na rua. Porque tudo e porque nada.
Mas assim, a dormir, com um ar tão descansado, parecia quase feliz, a menina doce e ingénua com quem tinha casado, e que ele tinha transformado numa eterna mãe.
Fechou os olhos desejando guardar aquele momento no fundo das suas memórias. Gostava de o poder guardar para sempre, que a vida parasse ali como uma fotografia.
Acariciou-lhe os olhos amendoados, devagar para não a despertar, e dar assim azo a mais censuras e recriminações. Desenhou-lhe com a ponta do dedo todos os contornos do rosto, demorou-se na boca que era sua, fonte de dor e de prazer. Ergueu-se no cotovelo para a observar de cima, como rapina estudando a presa. Deu-lhe beijos leves nas faces, viu-a entreabrir os lábios, respondendo às carícias gentis.
Emoldurou-lhe o rosto com as duas mãos, deslizou-as até ao pescoço e apertou-o suavemente, quase como uma carícia. Viu-lhe os olhos abertos passarem da surpresa ao desejo, e daí ao medo, enquanto cerrava mais o círculo em torno dela, e lhe beijava os lábios sedentos de vida.
Sentia os músculos dela tensos debaixo do seu corpo, pouco habituado a violências daquele tipo, e isso excitava-o, devolvia-lhe um sentido de domínio e auto-estima que ela o tinha feito perder. Sentiu-se poderoso e forte, dono dela e do mundo.
Mas enquanto a vida lhe ia fugindo do corpo e ela deixava lentamente de lutar por ar, a sua expressão transformou-se, o seu rosto moldou-se numa gigantesca recriminação, e ficou congelado para sempre assim, na face perpétua da mãe em que se tinha transformado. E ele sentou-se na beira da cama, desolado e indefeso chorou como uma criança sem ninguém para o consolar.

quinta-feira, setembro 21, 2006

Update rápido

Estou exausta, a trabalhar há 8 dias seguidos, porque trabalhei no fim de semana passado no emprego antigo ainda.
Desde segunda que estou no emprego novo, inglês 8h por dia, com uma miríade de novas terminologias e dois sistemas informáticos totalmente novos.
Estou bastante contente com as minha novas funções, com o novo ambiente de trabalho, com a nova remuneração. As partes más ainda não chegaram, e espero que demorem bastante.
Estou mesmo no centro de Lisboa, a 20 minutos de casa, com um sorriso nos lábios logo de manhã.
Falta-me um bocadinho de tempo para ser produtiva literariamentte, mas lá havemos de chegar.

quinta-feira, setembro 14, 2006

Meteorologia

Ás vezes, no meio das nuvens e das neblinas crónicas, vislumbra-se uma aberta, por onde espreita um timido raio de sol.
Mudei de emprego, graças a Deus.

terça-feira, setembro 05, 2006

Mirava o seu corpo despido em frente ao espelho, tentando perceber se gostava do que via. Estava claramente bronzeada, e agradavam-lhe as marcas subtis deixadas pelo bikini, testemunhas de bocados bem passados descansando ao sol. Gostava dos ossos saídos das ancas que realçavam a sua extrema magreza, o peito pequeno e empinado, a pele lisa e sem uma única estria.
Os olhos castanhos-claros emolduravam-lhe um rosto expressivo e ossudo, e os cabelos bem tratados desciam-lhe pelas costas como um mar revolto. No geral era uma mulher muito atraente.
Pegou no vestido depositado na cama sem cerimónias, e vestiu-o com cuidado para não enrugar. Calçou as sandálias altas com que tinha treinado o caminhar tantas vezes, e deu uns passos hesitantes pelo quarto. Apanhou o cabelo dum modo simples, mas eficaz, que lhe garantia estabilidade para todo o dia, e maquilhou-se duma forma cuidada e suave.
Respirou fundo, olhou pela janela para a azáfama da rua, e aproveitou os últimos minutos de calma que o seu quarto lhe proporcionava. Para fora daquela porta esperava-a o caos. Pais, amigos e familiares perdidos no tempo, um fotógrafo intrometido e pertinente, muitas dezenas de pessoas a exigirem o seu cuidado e atenção, naquele que supostamente era o seu dia. Pessoas desconhecidas que passariam a ser família, amigos novos que ganhara, gente que gostava e alguns que não suportava. E a todos teria de cumprimentar com um sorriso.
Para lá daquela porta a vida que a esperava nunca mais seria a mesma.

terça-feira, agosto 29, 2006

Bolinha no canto superior direito

Revolvia os olhos rapidamente, olhava freneticamente para o ambiente que a rodeava. Tudo lhe era estranho, nunca tinha visto o mundo daquela perspectiva. Era tudo tão negro, tão árido e áspero. Quase diria que o seu novo mundo era todo feito de asfalto quente e doloroso.
Sentia-se tremendamente pequena, vulnerável e exposta aos perigos do mundo. Algo se tinha passado na sua vida, um trauma terrível que ela não conseguia identificar.
Ouvia sirenes como pano de fundo, sentia uma humidade morna a envolver-lhe a cabeça, a pesar-lhe nos cabelos.
Revirou os olhos, olhou em volta tentando reconhecer algo do local onde se encontrava. Sentia-se cada vez mais cansada, com dificuldade em ter um raciocínio coerente. Era como se tudo lhe fugisse rapidamente debaixo dos pés, enxaguado por aquele liquido morno e espesso.
Já quase não via nada, apenas distinguia formas. Sentia a consciência a escapar-se-lhe nas pontas dos dedos que já nem sentia. Lá ao fundo, pelo canto do olho, percebeu uma forma que lhe era familiar. Conhecia aquelas mãos sapudas, aquelas carnes moles, as pernas maciças. Reconheceu o seu corpo deitado sem vida no asfalto, decepado violentamente.
E depois disso, mais nada.

sexta-feira, agosto 25, 2006

Revolução na Astronomia!!

E agora? O que vai acontecer aos nativos de Escorpião que perderam o seu regente?

segunda-feira, agosto 21, 2006

Intimidades

Lá fora estava frio e chovia abundantemente. Uns raios iluminavam ocasionalmente a manhã cinzenta, e o som cavo dos trovões fazia-lhe tremer os ossos. Ele estava sentado no parapeito da janela, contemplando o caos da rua, sentindo-se agradecido pelo aconchego do seu quarto. A testa pousava docemente no vidro frio da janela, enquanto observava as pessoas pequeninas lá em baixo, lutando com os seus guarda-chuvas e afadigando-se no quotidiano.
Olhou para dentro para se certificar que no seu mundo tudo se mantinha inalterado. Ela ainda dormia calmamente na cama que era dos dois, os cabelos emaranhados trepando pelas duas almofadas como hera numa casa velha. Tinha uma expressão serena, contente, no meio do desalinho dos lençóis, testemunhas do rebuliço nocturno. Os seios elevavam-se ritmicamente, ao som da respiração quente, e as pernas estavam ainda entreabertas, com a confiança de quem se sente segura. No ar pairavam aromas a amêndoa, canela e amor, e a intimidade partilhada era esmagadora.
Apenas havia uma nota discordante. As roupas dela mantinham-se espalhadas no chão do quarto, despidas à pressa na luta dos corpos, marcavam o território que era seu. As dele já lá não estavam. Ele estava impecavelmente vestido, e as malas estavam à porta, prontas para a saída.

quinta-feira, agosto 17, 2006

Sonhos Verídicos

Esta noite tive um sonho mesmo estranho. Costumo sonhar muito, sonhos agitados, pesadelos algumas vezes, coisas sem nexo. Home cinema da melhor qualidade, a minha vida em comédias sátiro-romantico-aterradoras. Esta noite ainda me ri quando acordei. Claro que depois lembrei-me que eram 6h da manhã e eu ia para um call center daí a nada, e passou-me a vontade de rir.
Mas era uma casa com muitos quartos, e uma sala escura, coberta de lençóis brancos a cair pelas paredes, com uma pista de dança no meio. Nela estava uma amiga minha a dançar com um dos dançarinos do Dança Comigo (escuso de dizer quem é, que ela já percebeu de certeza;)). Mas dançaram imenso, a meio já parecia patinagem artística, porque ele fez a minha amiga rodopiar, primeiro pelo chão, depois pelo ar, acima da sua cabeça, qual boneca de trapos. Eu ia assistindo calmamente, deitada num meio sofá/meio cama, todo branco como tudo à minha volta.
De repente o cenário mudou, e eu era uma menina pequena, filha dum casal, que tínhamos ido visitar a aldeia duns irredutíveis gauleses/celtas. Mas a aldeia estava assente em estreitas rochas, com imensos precipícios por baixo, o que foi horrível, tendo em conta as vertigens que eu sofro. E o chefe da aldeia mostrava-me os infinitos precipícios sem fundo e dizia-me: "Sim, de onde pensam que tirávamos rochas para construir tantos menires?"
Quem visitava a aldeia, e ficava a saber o terrível segredo dos gauleses/celtas, nunca mais podia de lá sair, para não contar a verdade ao mundo. E eles não eram propriamente as personagens simpáticas dos livros que conhecemos.
E estava eu a jurar que nunca contaria nada, sendo a menina mas ao mesmo tempo vendo a cena de fora, quando tocou o meu maldito despertador dos infernos, e eu acordei na minha realidade, à beira dum precipício infinito e assustador chamado vida, donde se retiram todos os menires que nos tapam o caminho.

sexta-feira, agosto 11, 2006

Reflexos

Ficou parada na estação a ver-se reflectida mil vezes nas janelas das carruagens que passavam. Imóvel, sem mover um músculo, mas com os seus reflexos a viajar à velocidade TGV para todas as partes do mundo. Eles iam conhecer aquilo que ela não podia, ver paragens distantes, mundos diferentes, inebriar-se com reflexos de homens livres. No Japão iam apinhar-se de encontro a mil trabalhadores matinais, no México partilhariam a sombra com galos e porcos, na Índia subiriam ao tejadilho da carruagem.
Depois voltavam, cada um de sua parte do mundo, com roupas novas, cores diferentes nas faces, histórias bizarras para contar. Alguns viriam acompanhados por reflexos a quem roubaram o coração, por quem se tinham apaixonado. Outros traziam-lhe presentes coloridos e comidas exóticas.
Todos os dias ela se sentava naquela estação de comboios, enviando novos reflexos e recebendo os antigos, escutando as suas histórias. Ocasionalmente um passageiro de carne e osso parava perto da sua cadeira de rodas, depositava uma moeda reluzente no pano preto estendido no chão e seguia o seu caminho.

segunda-feira, agosto 07, 2006

Update

Pois a minha vida teve algumas "minor changes" entretanto, das quais ainda não falei aqui. Neste preciso momento em que escrevo estas linhas sorrateiramente estou no meu trabalhinho novo. Rendi-me às evidências, e estou num call center de apoio ao cliente, a fazer 6 horas por dia, das 8h às 14h.
Pagam mal como tudo, tenho de me levantar às 6h da manhã, e demoro quase 2h de caminho a regressar a casa. Em breve terei de fazer também fins-de-semana. Mas nestes tempos de penúria, poderia ser bem pior. Confesso que me custa horrores atender clientes a gritarem comigo, como se eu fosse pessoalmente responsável pelos seus males. Não tenho muito feitio para este tipo de trabalho, mas melhores dias virão. Espero eu. Ou isso, ou definho lentamente naquele fim-de-mundo.
Mas tem algumas vantagens. Sendo a maior o facto de sair às 14h, ter duas amigas de férias, o que me permite ter umas tardes de praia bem jeitosas em perspectiva. De resto, o meu curriculo já deve estar em mais de metade das empresas de Lisboa, e algumas doutros sítios. Outra vantagem é esta mesma que podem ver. Tenho acesso à net, e às vezes enquanto estou horas sem uma chamada, sempre dá para me ir entretendo à socapa. :)
E mesmo escrever uns textos, em dia de maior inspiração.

quarta-feira, agosto 02, 2006

Derivações Infantis

Era uma vez
Um gato maltês
Tocava piano
Falava francês

Gostava de ratos
E de passarinhos
E à terça-feira
Cozia bolinhos

Enjoava de carro
E de avião
Mas em qualquer barco
Era um valentão

Por isso embarcou
Numa longa viagem
Um barco de piratas
Cheio de malandragem

Comia peixe velho
E ratos sabujos
Mordia calcanhares
De velhos marujos

Morreu de velhice
O nosso gatão
Teve longa vida
Cheia de emoção

domingo, julho 23, 2006

Convite de Fim-de-Semana

As cobertas jaziam revoltas no chão do quarto, em conjunto com peças de roupa despidas à pressa. Os lençóis emolduravam os pés da cama, como um quadro antigo. O corpo dela repousava inerte, abraçado à almofada pequena, quase de criança. O seu corpo era magro e ossudo, e aquela posição langorosa fazia realçar as suas nádegas arrebitadas e firmes.
Ele estava de pé a ver o seu reflexo no espelho grande que tornava aquele quarto um espaço eterno e infinito. Ajoelhou-se na cama, sempre olhando o espelho. O corpo dela ali tão disponível e abandonado despertava-o, e o calor abrasador dos últimos dias fervia-lhe nas veias.
Agarrou-a pelos ossos salientes das ancas e arrastou-a para si. Ela despertou do seu torpor, com um sorriso, mas permaneceu na mesma posição, deixando-o tomar o controlo. Ele enlaçou-a vigoramente pela cintura, apertou-a vigorosamente, como se quisesse que o corpo dela penetrasse no seu, e se tornassem verdadeiramente um só. Aquele cheiro suave que ela libertava enlouquecia-o, a sua vulnerabilidade despertava nele os instintos mais primários e animais. Explorava-lhe o corpo com as mãos, enquanto mantinha o seu peito firmemente colado nas costas dela. Beijou-lhe a nuca, as orelhas, o pescoço, mordeu-lhe um ombro violentamente enquanto ela se debatia para se soltar.
O calor, o ar carregado de sexo, o quarto onde viviam há dias sem sair, tudo isso o drogava e o tornava irracional.
Colocou-a de gatas enquanto espalhava dentadas fortes pelas suas costas, com raiva do corpo dela, por não ter sido só seu, sempre, por a ter conhecido já corrompida pelos desejos de outros. Queria magoá-la, castigá-la, faze-la sofrer tanto quanto o seu ciúme doentio o permitia. Arranhava-a, mordia-a, apertava-a com as suas mãos fortes até sentir os seus ossos ranger e a sua boca soltar gemidos de dor e prazer.
Ela não se debatia, deixava-o despejar toda a sua ira, descontrolar-se de ódio e desejo, e a sua passividade exacerbava a fúria animal dele.
E amavam-se assim, furiosamente, como duas feras que lutam, dois animais que se debatem pelo poder, um que domina e encanta, e outro submisso ao seu próprio descontrolo.

segunda-feira, julho 17, 2006

Tempos de Desespero Chegaram

Ok Teleseguro, bom dia, fala a Marta!
Se alguém precisar de mim pode encontrar-me debaixo da cama a chorar.

sábado, julho 15, 2006

Se ao menos...

... este calor infernal me fizesse perder algum peso. Mas é que nem isso. Em vez disso estou inchada que nem um balão.
Chiça, isso é que este calor me deixa uma gaja sexy.
(E pouco rabujenta... e pouco implicante... e feliz que nem um passarinho depenado... e...)

terça-feira, julho 11, 2006

Deve ser do tempo

Ando com um humor de cão. Não esperem coisas boas nos próximos dias, e não se aproximem muito que posso morder. Depois não digam que eu não avisei.

sexta-feira, julho 07, 2006

360º

Antigamente as nossas vidas davam voltas de 360º. Grandes e gigantescas voltas, rodopios, carrosséis intermináveis. As nossas vidas não paravam, não interrompiam o seu movimento espiralar. Mas um dia alguém aprendeu um bocadinho de matemática. Disse que 360º é uma volta que nos deixa no ponto de partida, um círculo completo. E nós reduzimos a nossa vida a pequeninos semicírculos, ridículas meias voltas, figuras incompletas. Agora dizemos com ar convicto e sabedor: “A minha vida precisa duma volta de 180º!”.
Pois a minha não! A minha vida não se fica por meias-voltas e troca-tintas. A minha vida precisa duma volta completa, como se dizia dantes. “Isto vai ter de dar uma volta completa, minha menina!” Não me contento com π, com meias medidas. Eu quero os 360º a que tenho direito, as voltas completas, o carrossel imparável que nos enche o estomago de borboletas e outros lepidópteros, a espiral ascendente, o furacão arrasador.

quarta-feira, julho 05, 2006

Finalmente percebi

... porque é que há pessoas que não gostam do Scolari. É que dantes, quando nem íamos ao campeonato do mundo, ou éramos logo eliminados, não se sofria tanto. E podiamos ficar felizes no nosso sentimento tão português de "tudo nos corre mal".
Assim sofre-se mais, porque também se sonha mais. Acabou o mundial para nós, mas acabou bem, de cabeça erguida. Olhem, foi um grande galo! Venham os jeitosos e altos alemães no sábado.
E força Itália, vençam esses brioches. :)

segunda-feira, julho 03, 2006

Verão a Seco

Massive Attack, The Strokes, Gotan Project, Goldfrapp, Prodigy... São apenas alguns dos nomes que vão circular por aí neste verão, e que eu não poderei ver por falta de financiamento.
Bem, Massive Attack é mais por falta de companhia, e os dois últimos são no Festival Sudoeste, coisa para a qual já me começa a faltar idade. Mas detesto saber que há boa música por aí a escapar-me por entre os dedos.

sábado, julho 01, 2006

Estou contente

A minha mãe faz hoje 53 anos.
A actuação do meu irmão correu bem.
O Sporting faz 100 anos.
E para culminar tudo em beleza, ganhámos com muita classe. Grande Ricardo, recordista de penalties defendidos em fases finais de campeonatos do mundo.
Um dia em cheio. :)

sexta-feira, junho 30, 2006

Sugestão



A Quest4Goa faz 7 anos de actividade no mundo da música trance, facto que passaria despercebido não fora o facto do meu irmão fazer um live esta noite. Por volta das 3h da manhã, na Barragem da Queimadela, em Fafe, podem escutar os sons produzidos por Leppy, aka meu irmão. Se estiverem por perto, gostarem da onda de festa ao ar livre em sitios bonitos e com música de dança de qualidade... passem por lá.

Podem ver o programa aqui.

terça-feira, junho 27, 2006

Posso ser mázinha mas...

... ao menos os espanhois vieram para casa primeiro que nós. Infelizmente, para isso tiveram de lá ficar os franceses. Não se pode ter tudo.

segunda-feira, junho 26, 2006

A 1 de Julho...

... começa o desporto à séria. Mesmo, daquele de fazer vibrar, torcer e gritar no sofá. Aquele que me dá verdadeiros momentos de emoção e prazer, mesmo apesar deste ano ter perdido o seu melhor atleta dos últimos tempos.

sábado, junho 24, 2006

Quartos-de-Final

Vai Luisinho, corre pelo flanco esquerdo, finta o adversário, procura uma linha de passe, e chuta a bola, fundo, para Zézinho do lado direito. Zézinho toca de primeira para Tiaguinho, que sai em velocidade, fnta um adversário, procura o remate. E pára para tirar o pedaço de relva que ficou agarrado ao atacador. É desarmado pelo defesa oponente, que corre agora para o contra-ataque, deixando Tiaguinho amuado no chão.
Zezinho tenta o corte, pressiona, tapa a linha de passe, e... FALTA. O árbitro estava atento e assinalou aquela canelada. Foi uma entrada dura, deu cartão amarelo para Zézinho. A mãe de Zézinho entra em campo, senta-o no colo e aplica-lhe as 10 nalgadas regulamentares.
A equipa reposiciona-se no terreno, reagindo aos gritos do treinador que ameaça cortar as sobremesas durante um mês, se os jogadores não estiverem atentos às marcações.
Mas o atacante adversário conseguiu criar espaço no flanco esquerdo, passa de primeira, corre para a baliza esquivando-se a Luizinho e Tomé. A baliza está desprotegida, já que o guarda-redes está de castigo de cara para a rede, por ter deitado a língua de fora à claque rival.
Luizinho, Tiaguinho e Tomé imploram misericórdia à mãe do guarda-redes, garantem que arrumam a casa durante um mês, mas ela inflexível não levanta o castigo e é GOOOOOOOOOOOOOOOOOOLO da equipa contrária.
E é o final do primeiro tempo, com 1 a zero para a equipa visitante. Os Coitadinhos estão a aguentar bem o pressing do adversário, mas colapsam facilmente às ameaças das mães caso sujem o equipamento.

terça-feira, junho 20, 2006

Só mais um... prometo

Eu sei que tinha dito que não fazia mais testes, mas a minha CosmoGirl interior não me deixa em paz. E como o meu maior sonho na vida é viajar, viajar, viajar. Raisparta a alma de rica em carteira de pobre...
Assim vou-me divertindo com estas coisas. E que tal? Qual o país da América Latina vos apela?

You Should Visit Costa Rica

Costa Rica is the perfect place for you to get in touch with your inner beach bum.
Relax on the beach, go for a bit of surfing, or try to communicate with the monkeys in the jungle!

sexta-feira, junho 16, 2006

Onomatopeias

«Esquerda! Esquerda! Vira agora, rápido. Direita, direita direita. Vira rápido, olha a parede. Pára, descansa um pouco. Respira, respira.
Outra vez, rápido, vira à direita. Olha o poste, desvia-te. Baixa um bocadinho, curva agora.
Ali ao fundo, está ali. Vai pela esquerda, há menos gente. Cuidado com as palmas. Desvia-te do garfo, cuidado com os dentes.
Agora podes ir, rápido. Dá-lhe tudo agora, estás quase a chegar à saída. Força, só mais um bocadinho. É ali! É ali! A luz está mesmo à tua frente. Rápido agora, vais sair...
BONC!!
Ai a minha cabeça... que tontura. Não sei o que falhou. Desce em espirais até à borda da mesa, e descansa aí um bocado.
Já chega, levanta-te. Vai com mais força agora, que consegues sair. A luz! A luz!
BONC!!
Não desistas! A luz está mesmo aí, e a saída tem de ser por lá. Força agora!
BONC!!
Outra vez, com mais força!
BONC!!
Não pares!
BONC!!
PAFT!»
«Este mata-moscas amarelo foi a melhor compra deste Verão.»

segunda-feira, junho 12, 2006

Santos Populares

(No dia em que faz 32 anos que fui concebida)


Oh meu rico Santo António
Meu rico Santo Antoninho
Vê lá se te despachas
A arranjar-me um maridinho.

Não tem de ser perfeito
Nem sequer muito bonito
Mas olha que dava jeito
Se fosse um bocado rico.

Com paciência de santo
E excelente feitio
Que ter de me aturar
É um grande desafio.

Vacas na Baixa




Claro que para tirar estas fotos tive de esperar que paizinhos desmontassem os seus pirralhos de cima das vacas. Que parte de "Não toque na obra" é que esta gente não percebe?

sexta-feira, junho 09, 2006

O Mundial e o Cliché Feminino


Força Portugal!!! Maldita Sport TV. Que saudades que eu tenho dos tempos antigos, em que todos os jogos davam na televisão de todos os portugueses. Nada melhor para uma desempregada que uma boa dose de homens de pernas jeitosas a correr frenéticamente atrás duma bola. Sempre anima uma pessoa, dá outro espírito. E os belos jogos da Itália, como vou conseguir vê-los? Coisas lindas e jeitosas como o Canavarro, o Totti, enfim, tudo aquilo que faz valer realmente a pena ver futebol. Alguém com Sport TV me convida para ver uns joguinhos italianos? ;)

sábado, junho 03, 2006

Divagações semi-poéticas

Respiro o teu corpo quente
Em cujas veias circula o meu hálito.
No subir e descer do teu peito
Navego como barco faminto,
Como alma que desliza em busca de terra.

Respiro-te para saber quem és.
Para absorver os pedaços de ti
Que não me deixas ver ou falar.
Poeira da outra vida,
Aquela que começaste sem mim
E que nunca há-de acabar.

Respiro-te porque não sei respirar sozinha.

segunda-feira, maio 29, 2006

Visões Apocalípticas

Algo se passa no reino da Dinamarca, ou melhor dizendo, em Portugal. E não preciso de o referir, que está à vista de todos. Já nem me refiro exclusivamente a este calor brutal que se faz sentir, que nos faz derreter por todos os poros, e reduzirmo-nos à nossa insignificância de sermos 73% de água a ferver. Mas olhem à vossa volta amigos, e verão a que me refiro. Eles andam aí, devagar, sub-repticiamente, a invadir-nos o planeta. Senão, vejam comigo:
Facto 1: Em casa da minha comadre, quinta-feira passada, um enxame de vespas cobriu-lhe todo o tecto da cozinha. Diz quem viu, e as enxotou, que foi uma visão aterrorizadora e dantesca.
Facto 2: Este sábado nas praias da Costa da Caparica deu-se uma tal invasão de mosquitos, que forçou as pessoas a refugiarem-se na água, ou a sair da praia enroladas em toalhas. Isto foi presenciado pela minha amiga Ritinha, que se encontrava no local.
Facto 3: Hoje entrei na casa de banho para tomar a minha banhoca, e deparei-me com mais de 10 mariposas a sobrevoar em pleno dia. Depois de algumas notas agudas (o que querem, coisas com 3 pares de patas afligem-me), da ajuda pronta da minha mãe, lá se reduziram a 3.
Facto 4: Mais do que um caso registado na capital de invasão domiciliária por osgas, o que só prova que há mais insectos dentro que fora das nossas casas.
Depois de todos estes factos analisados, torna-se evidente para mim, e para todos os que viram a miséria do Starship Troopers em repetição contínua na SIC, TVI, ou qualquer outro canal temático cujo tema é “trampa”, que a invasão já começou. Amigos, raciocinem comigo: a Era dos dinossauros teve um fim. Eles andavam todos contentes, nas suas casinhas, enquanto uns macacoides andavam pelo chão e escondidos nas árvores, a planear invadir-lhes os habitats e transforma-los em sapatos de alta costura.
Agora chega o tempo da vingança. Começou a nossa lenta substituição pelos artrópodes, aqueles seres injustiçados que pereceram esmagados tantas vezes debaixo dos nossos pés, ou cozinhados com sal e limão.
Eu da minha parte já deitei fora todos os insecticidas e mata-moscas, em busca de um lugar como colaboracionista dos invasores. Depois não digam que eu não avisei.

sábado, maio 27, 2006

Change My Taste in Men


Ontem, grande noite de Super Bock Super Rock, com Alice in Chains, Placebo e Tool. Os primeiros já não consegui ver tudo, mas pareceram-me renascidos, tal como dizia na faixa que mostraram no fim. Entretanto fomos jantar calmamente, ver as vistas, enquanto davam os horriveis Deftones.
Depois o momento intimista da noite. Eu, o Brian Molko, e mais uns milhares. Pode estar uma míriade de gente à volta, que um concerto duma banda assim nunca deixa de ser um momento só nosso.
There are twenty years to go
A golden age I know
But all will pass will end too fast, you know
E por fim os Tool. Muito, muito bons. Música muito poderosa, impossível ouvir sem mexer, tocaram todas as minhas favoritas do Aenima.
Uma noite de coração cheio, músculos contentes, corpo satisfeito de ritmos, olhos brilhantes de cores.

sexta-feira, maio 26, 2006

Vacas no Saldanha




O jantar mensal de gajas foi pretexto para ver as vacas do Saldanha. A minha favorita é esta Taxi-Vaca, com os puxadores e tudo. O mais triste nesta exposição de rua, são as vacas que já foram danificadas, vandalizadas. Alguns engraçadinhos acharam por bem imortalizar os seus nomes nalgumas destas peças. É nestas alturas que eu sinto pena da falta de civismo de muitos portuguesinhos.

segunda-feira, maio 22, 2006

Histórias Verídicas

Chamem-me tradicional, mas sou muito cuidadosa de com quem durmo. Não sou moça de andar para aí a dormir com este e com aquele que se me aparecem à frente. Se bem que nas Travessas, terra do meu coração, onde vou com regularidade passar férias como vocês bem sabem, já desenvolvi uma certa tolerância e mesmo uma certa flexibilidade, levando-me a ter padrões mais alargados, aqui por Lisboa continuo a ter os meus pruridos, e a ser mais selectiva.
Não falando nas moscas, melgas e mosquitos, que entram sem ser convidados e se apoderam de tudo, lá por terras das beiras qualquer coisa com menos de três pares de patas pode partilhar os meus aposentos. Depois de muita negociação, passar a noite comigo está apenas vedado a centopeias, aranhas cujas patas se ouvem caminhar na parede e pouco mais. Ainda esta Páscoa dormi com uma magnífica e rechonchuda osga, muito cor-de-rosa e deslumbrante. É certo que ainda tentei negociar com ela, pedir-lhe que me deixasse só, invoquei que era um pouco envergonhada. Neste ponto ela cedeu, e escondeu-se atrás do meu espelho da cómoda, o que nos permitiu passar uma noite bastante agradável sem contacto visual.
Aqui pela capital confesso que sou mais picuinhas. Nenhum tipo de aranhas pode compartilhar a minha intimidade, nem formigas, nem qualquer tipo de insectos, nem tipos que me ligam 3 vezes por dia a tentar reeditar noites loucas que tivemos no passado. Esqueçam amigos, é passado, não vai voltar a acontecer.
Posto isto, osgas nunca estiveram em discussão. Por isso amiga cor-de-rosa que te passeias pela parede da minha sala, quase matando a minha mãe de ataque cardíaco de cada vez que eu lhe grito: “Olha aí em cima!!”, vamos ter de resolver isto a bem. Tudo bem que eu sou bióloga, coração de manteiga, não mato animais só por não gostar deles (excluindo dípteros em geral), mas acho que estás a abusar um pouco. Três noites seguidas a rebolares a cauda pela minha humilde residência, sem pagar qualquer tipo de aluguer, espreitando provocatoriamente por trás da cristaleira, acho que é esticar um pouco a corda. Por vontade da minha mãe já estavas com uma moca de Raid moscas e mosquitos, a cambalear daqui para fora. Mas eu, que sou uma santa, tenho deixado passar. Aconselho-te a resolver isto a bem, a saíres pelo teu pé. Eu sei que já disse que queria um animal de estimação, mas não era bem nisto que estava a pensar.

quinta-feira, maio 18, 2006

Auto-Ajuda

«Bem vinda à Jornada Espiritual de Auto-Ajuda do Professor Caramba. Se seguiu as instruções pré-fornecidas, deverá estar neste momento de pé no centro da divisão em que se encontra, completamente relaxada e preparada para iniciar a nossa sessão. Se assim não for, pause este discurso pelo tempo necessário a proceder à sua preparação.
Muito bem, sente-se na esteira que tem à sua frente, de pernas cruzadas, costas direitas, olhos fechados, e concentre-se na sua respiração. Inspire. Expire. Inspire. Expire. Inspire. Expire. Vá tornando a sua respiração mais lenta enquanto visualiza no centro da sua mente um mar imenso à sua frente, azul e profundo, de águas tépidas e com o barulho das ondas como fundo. Concentre-se agora no som das ondas e sincronize a respiração com o seu ritmo. Imagine o mar relaxante, cheio de criaturas felizes, que transmitem para si as suas energias de liberdade e amor. Imagine-se uma só com todos os animais que a rodeiam, os peixes do oceano, as aves do céu, as criaturas terrestres. Imagine-se como parte desse grande plano de amor e felicidade que Deus construiu no mundo e repita para si própria em voz alta:”Eu sou uma criatura de amor!”. Repita essa frase alto e com convicção, até ela se embeber no seu coração e na sua mente.
Levante-se para combater um pouco essa agitação que começo a denotar na sua respiração. Repita em voz bem alta: ‘’Eu sou a dona da minha vida, sou uma mulher de sucesso!’’ Diga-o com convicção e força, de modo que os obstáculos que se encontram no seu caminho se dobrem à sua vontade. Por esta altura os auxiliares medicamentosos que tomou devem ter começado a exercer o seu efeito. Não se assuste se pequenos duendes verdes falarem consigo e a tentem convencer a desistir dos seus propósitos. Submeta-os à sua vontade com o poder da sua mente.
Concentre-se no som das ondas, e modele a sua respiração, não deixe que a agitação tome conta de si. Molde-se com a natureza que a rodeia, absorva a sua energia e interiorize que é uma mulher de sucesso.
Não será necessário continuar a gritar com os duendes verdes. Não se esqueça que eles são produto apenas da sua mente, e são induzidos pelo estado de transe que aflora neste momento. Não, também não será necessário correr atrás do tigre branco. Não, você não é o coelhinho da Alice, e não está atrasada para coisa nenhuma.
Por favor, não ingira mais nenhuma dose dos cogumelos do início da sessão. Não, não trocámos o som do mar pelo último álbum dos Metallica. Mantenha-se sintonizada na minha voz e por favor páre de correr em círculos à volta da sala. Gritar que é o ‘’King of the World’’ é capaz de alertar os vizinhos desnecessariamente. E mandar essas cadeiras pela janela também não foi uma boa opção para a sua paz interior, pois não?
Inspire. Expire. Inspire. Expire... Vá você, sua ordinária.
Não, as sirenes que está a ouvir não são produto da sua imaginação. E esses senhores de colete branco na mão também não. Sim, é aconselhável que vá com eles, até porque eles acabaram de a injectar com um forte sedativo. Divirta-se.
E assim termina mais uma sessão de Auto-Ajuda Espiritual do Professor Caramba. Obrigada por preferir os nossos serviços, e volte sempre.»

sábado, maio 13, 2006

Tenho Fome...

Um chocolatinho só. Ele está ali há tanto tempo na gaveta a sussurrar baixinho para que o libertem. Na realidade eu até acho uma crueldade nos dias de liberdade em que vivemos, aprisionar pobres chocolatinhos em gavetas, ou despensas, ou pior ainda em frios gulags de prateleiras de frigorífico. Tudo bem, ainda há uma hora atrás libertei toda uma feijoada dos seus grilhões da panela, mas que hei-de fazer se já um pequeno roedor se apoderou de todo o espaço livre do meu estômago, fazendo-me desconcentrar de todas as tarefas em que deveria estar empenhada? Acho que o melhor mesmo é acabar de vez com aquele chocolatinho e voltar ao trabalho que se faz tarde.
Agora sinto-me bem, nada como libertar os oprimidos e faze-los entrar nas fileiras dos que trabalham em prol do colesterol e do ataque cardíaco rápido e eficaz. Sim, para quê tentar viver até aos 100 anos, carregada de alzheimer, parkinson, outros senhores estrangeiros que nos lixam a vida, quando a dieta adequada nos pode livrar de tanta dor e sofrimento? É certo que o meu corpinho de sereia já emigrou para o Canadá, e de forma legal, porque não me parece que a este ritmo ele vá voltar. Tudo bem que as caminhadas são difíceis, que correr atrás dos filhos é uma canseira, mas eles também não se perdem, não é? As crianças têm aquele sentido de pombo-correio, sabem sempre voltar a casa e ao frigorífico recheado. Iogurtes infantis carregados de açúcar, smarties, gomas, pintarolas, reginas, fruta em pacote, leite de sabores. Há que começar cedo a educar as papilas gustativas com as iguarias do século XXI.
O chocolate já se foi, o ratinho no estômago também, se calhar o melhor é ir pensando no jantar, que não quero que ninguém passe fome cá em casa.

segunda-feira, maio 08, 2006

Mudanças

Arranquei os panos pretos que tapavam as janelas para não deixar entrar o ar, e cobri com eles os meus cabelos que esvoaçavam ao vento. Arranquei da porta a fechadura que me fechava a casa ao mundo, e apliquei-a na entrada da minha boca para não me deixar fugir. Tranquei-me com sete cadeados iluminados de areia e vento, dobrei-me pelos vincos do ferro e embalei-me para presente. Enchi o baú de selos novos e velhos, de todas as cores e sabores, e esperei que me levassem assim embalada a dar a volta ao mundo dentro do teu coração.

domingo, abril 30, 2006

Marnie

Marnie era um pequenito duende, com um ar forte e robusto, pernas musculadas, e braços endurecidos por anos de trabalho. Andava sempre com um barrete verde, um colar com uma das suas falsas moedas de ouro, e tinha o eterno ar de adolescente maroto de todos os duendes. Marnie era um Duende Cavador. Para todos aqueles que não estão familiarizados com os nossos amigos mais pequenos, aqui vai a explicação. Um Duende Cavador carrega sempre consigo uma pequena mas eficaz pá, e está encarregado de cobrir as humilhações do mundo. De cada vez que um de nós se sente envergonhado até à medula, aparece um destes duendes trabalhadores, cava um buraco profundo à nossa frente e enfia-nos lá pelo tempo necessário para esquecermos que fomos humilhados e enfrentarmos o mundo de novo.
Ele gosta de rondar restaurantes românticos e cinemas, sítios de primeiros encontros entre pessoas que estão a tentar entender-se e atrair-se. São alturas muito ricas em frases que mereciam ser apagadas para sempre da história da humanidade, que fazem quem as proferiu desejar ter um buraco à frente tão profundo que nunca mais de lá saísse. E Marnie ajuda-os a cumprir o seu desejo, cava um buraco fundíssimo numa questão de segundos e a pessoa enterra lá a sua vergonha.
Também gosta de visitar escolas, mas o trabalho aí é demais até mesmo para um duende tão empenhado como o Marnie. Há sempre alunos a ser envergonhados no quadro pelos professores, miúdas que sofrem pelas roupas que os pais as obrigaram a vestir de manhã, e que não são o ultimo grito da moda, rapazitos que falham penalties importantes. Depois dum dia passado numa escola, Marnie precisa de 3 dias a descansar num buraco cavado por ele.
Discotecas em final de noite também são um local engraçado, embora não tão trabalhoso. Os bêbados não se envergonham dos seus actos, tal como não têm consciência deles. Mas com sorte, há sempre uma namorada que ficou para trás e que morreria de humilhação se não fosse o buraco do Marnie para enterrar a sua vergonha. E num dia em que o trabalho tenha sido pouco, pode sempre seguir um dos festeiros até sua casa e esperar que ele acorde e embata de novo com o mundo. Muitos deles nunca mais se levantariam, se não fosse o buraco do nosso amigo onde enterram as suas desonras.
Mas há sítios onde o Marnie nunca encontra o que fazer. As férias passa-as sempre na Assembleia da República, nas galerias sentadinho a dormir, a recuperar forças para de novo enterrar as desonras do mundo.
Muitas vezes penso no Marnie, que tanto me ajudou na minha adolescência, e que mesmo hoje em dia convoco muitas vezes. Sem ele não poderia ter continuado, e ainda me lembro de muitas alturas em que se não fosse ele nunca mais me levantaria da cama. Conheço de cor os locais de Lisboa onde estão enterradas, e ao caminhar na rua penso sempre de quem serão as vergonhas que estão debaixo dos meus pés.

terça-feira, abril 25, 2006

Efemérides

Onde estavas no 25 de Abril, essa data tão importante e emblemática do nosso passado? Se bem me recordo estavas na cama duma lambisgóia qualquer, a lambuza-la de cravos vermelhos e beijos de mel, perfeitamente imbuído do espírito revolucionário passivo que tão bem nos define. Sempre foi assim toda a nossa vida, as efemérides nunca as passámos juntos. Só te lembras de mim quando a fome aperta e os meus braços te parecem alimento.
E eu, esposa amantíssima convencida do seu papel aglutinador da sociedade decadente em que vivemos, cá te espero de braços abertos e recriminações na ponta da língua. Alimento-te na cama e na mesa como animal ferido com medo do mundo, até te sentires de novo livre e forte para sobrevoar e rapinar as mulheres alheias.
Já nem saberia viver doutro modo, sou livre e feliz à minha maneira, fazendo o papel da esposa humilhada quando não estás, e da mulher corajosa e altruísta quando regressas de rabo entre as pernas.
“Para quê aturar os defeitos de outro, quando já conheço de cor os deste?”, comento com as vizinhas coscuvilheiras com ar sofredor, gozando da atenção extra que me é dispensada. “Coitado, eu tenho sofrido muito, mas desta vez ele vem para ficar.” Cruzes canhoto, Deus me livre que isso fosse verdade!

segunda-feira, abril 24, 2006

Cinemas e caminhadas.



Tenho andado pelos caminhos do indie a ver alguns dos filmes que por lá passam. Até agora o saldo tem sido francamente positivo. Gostei muito do Megacities, que vi esta noite, e da sessão que perguntas com o realizador que se seguiu. Gostei também muito do Me and You and Everyone Else, da Miranda July que nos mostrou uma visão ternurenta. E o estranho Wild Blue Yonder, uma fantasia espacial, com o seu quê de cómico.

Se quiserem saber os resumos e os nomes dos realizadores, podem procurar na página oficial do indie, que no meu pc não abre, mas é qualquer coisa como www.indielisboa.com