"Era uma bica e um pastel de nata, por favor."
Era uma mulher que gostava de rotinas. Prezava-as, davam-lhe uma doce ilusão de segurança. Todos os dias ia ao mesmo restaurante almoçar, todas as noites ao mesmo café. Mal entrava recebia um sorriso rasgado do empregado, que já nem perguntava, vinha apenas servir-lhe a sua bica, com um copo de água e um pastel de nata. Levava com ela um livro, lia algumas paginas, mas essencialmente sonhava acordada.
Olhava os outros clientes com uma curiosidade assanhada, como se pudesse beber deles uma vida que não tinha. O casal de namorados a beijar-se no canto, o casal de gays, as três amigas que vinham desabafar as mágoas, o ar culpado daqueles dois, que claramente tinham outras famílias em casa, mas que todas as sextas se encontravam ali antes de subirem para um quarto da pensão do lado.
Tudo o que via analisava, e o que não via imaginava. Completava a realidade de cada um com os seus próprios sonhos e assim vivia feliz.
Saía do café por volta da uma da manhã, quando ele finalmente fechava, mas não ia ainda para casa. Encostava-se na paragem do autocarro, vazia aquela hora, a ver os carros que passavam, e a impressão que produzia neles. Muitos olhavam para ela como se fosse doida, com a curiosidade natural de ver uma mulher sozinha aquela hora. Mas muitos, homens solitários como ela, abrandavam, olhavam-na demoradamente, tentando percebe-la.
Às vezes , nas noites melhores, havia um que parava. Confundia-a com uma prostituta, perguntava-lhe o preço. Ela sorria, entrava no carro, fazia tudo, não levava nada. A intimidade, mesmo que falsa, não tem preço.
Olhava os outros clientes com uma curiosidade assanhada, como se pudesse beber deles uma vida que não tinha. O casal de namorados a beijar-se no canto, o casal de gays, as três amigas que vinham desabafar as mágoas, o ar culpado daqueles dois, que claramente tinham outras famílias em casa, mas que todas as sextas se encontravam ali antes de subirem para um quarto da pensão do lado.
Tudo o que via analisava, e o que não via imaginava. Completava a realidade de cada um com os seus próprios sonhos e assim vivia feliz.
Saía do café por volta da uma da manhã, quando ele finalmente fechava, mas não ia ainda para casa. Encostava-se na paragem do autocarro, vazia aquela hora, a ver os carros que passavam, e a impressão que produzia neles. Muitos olhavam para ela como se fosse doida, com a curiosidade natural de ver uma mulher sozinha aquela hora. Mas muitos, homens solitários como ela, abrandavam, olhavam-na demoradamente, tentando percebe-la.
Às vezes , nas noites melhores, havia um que parava. Confundia-a com uma prostituta, perguntava-lhe o preço. Ela sorria, entrava no carro, fazia tudo, não levava nada. A intimidade, mesmo que falsa, não tem preço.
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