Retalhos
Estava empenhada a fazer o jantar na cozinha, perdida nos seus pensamentos. Descascava as batatas e os outros legumes para a sopa que haveria de ser o seu jantar. Mas a sua mente estava a milhares de quilómetros dali, no meio das estrelas do céu, e do calor da sua imaginação. No quarto, o filho mais velho fazia os trabalhos de casa, ou pelo menos era bem sucedido a fingir que estudava. Na sala, o mais novo estava agarrado à consola de jogos, sendo um verdadeiro heroi de futebol, ou de lutas. Ela não conseguia distinguir, faziam todos a mesma barulheira infernal.
Na casa de banho ouvia-se o som da água a correr. Ele estava lá, libertando as tensões do dia de trabalho, e ela imaginava as gotas de água a deslizarem pelo seu corpo nu, que se ia relaxando lentamente, descontraindo a musculatura carregada de stress. Imaginava a espuma do banho que lhe desenhava os contornos e os tornava mais apetecíveis, sonhava com aquele corpo que ainda era uma caixa de surpresas.
Esgueirou-se da cozinha devagar e silenciosa como a gata da familia. Espreitou cada um dos míudos, garantindo a sua imobilidade nos instantes que aí vinham e foi até ao quarto. Despiu-se lentamente, saboreando cada instante, aquecendo o próprio corpo com o toque das suas mãos.
Vestiu um roupão de seda, e entrou na casa debanho sem um ruído. Deslizou para dentro da banheira, acariciou o corpo que era dela, que conhecia de cor. Ele agarrou-a sorrindo, beijou-a com sofreguidão e amor. E amaram-se assim, na confusão dos dias, com um hálito a perigo e um gosto de aventura.
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