quarta-feira, setembro 08, 2004

Vidas Reais

O sol está quase a pôr-se e enche a superfície da água de reflexos dourados. Muita ao longe conseguem ouvir-se os poucos carros que cruzam a estrada nacional, fazendo presente a proximidade da civilização. Mas mais próximos estão os sons das abelhas, das andorinhas que vêm aqui beber água, convidadas pela minha imobilidade.
E eu, sozinha, penso em ti. Nem mesmo no meio do paraíso, embalada por corvos e cigarras, tu me sais do pensamento.
Gostava que estivesses aqui, que nos tocássemos, beijássemos. Que me despisses freneticamente, e que cuidadosamente procurássemos um local sem pedras para dar asas ao desejo. Que nos ríssemos quando um ramo de videira se prendesse no meu cabelo, e que escutasses embevecido os meus palavrões quando uma silva traiçoeira se espetasse no meu rabo.
Os teus beijos quentes curariam as minhas feridas, enquanto uma urtiga escondida te magoava as costas.Por fim, exaustos de tanto amor, picados por abelhas, recolheríamos as roupas ofegantes, enquanto fugíamos correndo das vespas enraivecidas que despertaram quando derrubámos o seu ninho.