Tempos Modernos
Já fomos largos milhares a cruzar esta serras. Já dividimos o alimento com linces, raposas e mesmo ursos. Mas hoje somos poucos, poucas dezenas e só algumas matilhas. Já andamos a acasalar com a prima da prima, somos todos família, e por vezes não tão afastada assim. Não admira por isso que alguns de nós já nasçam chonés. Outro dia, numa matilha vizinha, nasceu um primo que achava que era um coelho. O pior é que desempenhou tão bem o seu papel que os irmãos acabaram por comê-lo.
Na minha matilha ainda não há esses problemas. O macho β, o que vem a seguir a mim na hierarquia, assim a modos que o vice-presidente, outro dia estava a dar-se ares de Afonso Henriques, a querer conquistar terreno, mas a minha Josefina deu-lhe cabo da saúde. Mostrou-lhe os dentes cá duma maneira, que ele não teve outro remédio senão meter o rabinho entre as pernas e ir embora. Era o que faltava, o meu lugar ninguém tira!
Mas a vida está difícil. Conta-se que em tempos, há muitos muitos anos, havia comida com abundância, coelhos a saltar por todo o lado, perdizes, esquilos, e até mesmo corças e veados. Um verdadeiro banquete.
Mas hoje já quase não há coelhos, e os que existem ou estão doentes ou cheios de chumbos. Já sobrevivo a escaravelhos e vegetais. A minha Josefina bem me diz para eu pensar que é salada de marisco, coisa fina. Mas eu não sou dado a estas modernices da nouvelle cuisine de baixas calorias. Lobo que é lobo tem de comer carne. E com pele, pelos e tudo.
Em dias santos lá se consegue uma cabra mais distraída, mas é muito arriscado. Sacanas dos cães não brincam em serviço, e os pastores já andam todos armados.
Outro dia estiveram cá uns senhores que dispararam contra a matilha toda. Só sei que quando acordámos estávamos todos com um brinco e um colar. A Josefina, que acordou antes de mim como sempre, diz que os ouviu dizer que nos vão seguir, e proteger a espécie, e mais não sei o quê. Eu só sei que isto ainda pesa, e eu bem me esfrego em tudo o que é árvore a tentar tirar. Mas a Josefina diz que até me dá um ar distinto, mais fashion... enfim, há que acompanhar os tempos.
Na minha matilha ainda não há esses problemas. O macho β, o que vem a seguir a mim na hierarquia, assim a modos que o vice-presidente, outro dia estava a dar-se ares de Afonso Henriques, a querer conquistar terreno, mas a minha Josefina deu-lhe cabo da saúde. Mostrou-lhe os dentes cá duma maneira, que ele não teve outro remédio senão meter o rabinho entre as pernas e ir embora. Era o que faltava, o meu lugar ninguém tira!
Mas a vida está difícil. Conta-se que em tempos, há muitos muitos anos, havia comida com abundância, coelhos a saltar por todo o lado, perdizes, esquilos, e até mesmo corças e veados. Um verdadeiro banquete.
Mas hoje já quase não há coelhos, e os que existem ou estão doentes ou cheios de chumbos. Já sobrevivo a escaravelhos e vegetais. A minha Josefina bem me diz para eu pensar que é salada de marisco, coisa fina. Mas eu não sou dado a estas modernices da nouvelle cuisine de baixas calorias. Lobo que é lobo tem de comer carne. E com pele, pelos e tudo.
Em dias santos lá se consegue uma cabra mais distraída, mas é muito arriscado. Sacanas dos cães não brincam em serviço, e os pastores já andam todos armados.
Outro dia estiveram cá uns senhores que dispararam contra a matilha toda. Só sei que quando acordámos estávamos todos com um brinco e um colar. A Josefina, que acordou antes de mim como sempre, diz que os ouviu dizer que nos vão seguir, e proteger a espécie, e mais não sei o quê. Eu só sei que isto ainda pesa, e eu bem me esfrego em tudo o que é árvore a tentar tirar. Mas a Josefina diz que até me dá um ar distinto, mais fashion... enfim, há que acompanhar os tempos.
Afinal... quem não quer ser lobo, não lhe veste a pele.
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