quinta-feira, agosto 11, 2005

Solitaire

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Fazia paciencias compulsivamente, como quem tenta arrumar a vida com um baralho de cartas. Sempre pensara que naqueles naipes diferentes, nos números e figuras impregnados de leis de probabilidade exacta, estava a chave da sua vida.
Empilhava cuidadosamente todas as cartas, por ordem decrescente, alternando as cores, espelho da arrumação que ansiava fazer no seu cérebro e no seu coração. E elas davam-lhe pistas sobre a sua vida. Normalmente o rei de copas teimava em não aparecer, deixava o jogo pendurado, escondia-se no meio das espadas e paus que ela tinha erguido para se proteger.
A rainha de ouros erguia-se majestosa à sua frente, sempre pronta a bloquear o aparecimento de qualquer valete que se atrevesse a distrair a jogadora do objectivo final, a perfeição absoluta, todos os molhos empilhados sem falha, milimetricamente organizados, de acordo com a planificação em que se transformara a sua vida.