Voa, voa, que o teu pai foi para Lisboa
Era uma joaninha, pequenina, bem redondinha, e que corava com facilidade. Chamava-se Coccinella septempunctata . Coccinela por parte de mãe, e septempunctata por parte dos sete diamantes fumados que tinha a ornamentar-lhe as costas. Assim à laia de tatuagem, para lhe dar garbo, e distinção. Tinha 3 em cada asa, e um mesmo a meio, que se abria majestoso quando ela começava a voar. Sim, porque joaninha que se preze dá os seus passeios em voos rasantes, de folha em folha, vaidosa das suas cores.
Era uma grande gulosa, sempre de boca aberta, pronta a devorar tudo o que lhe aparecesse pela frente. Comia sempre, em qualquer altura, a qualquer hora. E como tinha um ar tão inofensivo e delicado, era sempre fácil arranjar alimentos. Punha-se a piscar as suas enormes pestanas, mesmo na pontinha duma folha, na direcção de algum pulgão sobre desenvolvido, com ares de machão pronto a salvar uma donzela em perigo. Fazia a sua vozinha de menina indefesa, abanava as asas, fazendo a luz do sol incidir da maneira especial, que as fazia brilhar mais e sobressair o vermelho escuro, e lá se aproximava o pulgão, armado em conquistador, na esperança de uma valente sessão de sexo selvagem nas folhas da roseira.
Pobre coitado. Quando se apercebe da realidade que o cerca, já se encontra a meio caminho do tracto intestinal da nossa Coccinella por parte de mãe, menina de apetite voraz, e ciosa das suas sete armas de sedução.
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