sexta-feira, setembro 10, 2004

Madalena

Ela era alta, imponente, com o orgulho da raça espelhado nos olhos. Nunca tinha ido a África, terra dos seus avós, mas envergava os típicos trajes coloridos duma matriarca. Tinha a cor da savana nos olhos, o cheiro do mato na pele, e toda a sua imagem impunha respeito. Na rua as pessoas não conseguiam evitar olhá-la de lado, e desviavam-se à sua passagem.
Apesar de enorme, era graciosa como uma gazela, de feições suaves, e mesmo quando acompanhada pelos 6 filhos, não perdia a pose de rainha.
Na sua cabeça ela era descendente dum Rei duma das maiores tribos africanas, grande heroi e lutador pela liberdade do povo, e isso ajudava-a a passar as horas de trabalho, certa que um dia lideraria a grande revolta, libertaria todos os oprimidos.
Noutros dias era descente dum poderoso feiticeiro, conhecido pelas suas curas importantes, e pelas eficazes maldições que faziam perecer todos os inimigos. Sonhava que um dia curaria todos os males do mundo com os seus poderes herdados de curandeira.
Mas outros dias era apenas ela, empregada das limpezas, mãe de 6 filhos, solteira porque era demasiado independente para se amarrar a um homem, mulher cansada duma vida a lutar.