terça-feira, março 15, 2005

O Convite

Via-a passar todos os dias e sentia que ela era especial. Ansiava convidá-la para jantar, para darem um passeio, ou simplesmente para ficarem próximos, fazendo companhia um ao outro. Sonhava todas as noites com a melhor maneira de a abordar, fazer um convite, e por vezes tinha pesadelos terríveis, em que ela lhe dizia que não e troçava dele. Nessas alturas, acordava transpirado e agitado, e não voltava a adormecer, passava o resto da noite a tentar acalmar-se.
Ela era muito bonita, e caminhava sempre de nariz ao alto, com porte de princesa. Nunca tinha sequer reparado na existência dele, e nos olhares carinhosos que ele lhe lançava. Aspirava um dia encontrar alguém da sua condição, que cuidasse dela, e a tratasse como merecia.
Na realidade, ansiava por um cão de raça nobre e porte altivo, que ladrasse aos melhores carros da cidade, se alimentasse de bons pedaços de carne de vaca e biscoitos da melhor qualidade. Um cão destemido e aventureiro, que a soubesse defender dos rafeiros na altura do cio, que a protegesse dos homens do canil, que varriam as ruas fazendo prisioneiros.
Não fazia parte dos seus planos apaixonar-se por um simples candeeiro, velho e sujo, que ninguém reparava que existia, a não ser quando parava de dar luz.