As badaladas
Olhou em volta com um ar espantado. Tinham acabado de soar as doze chicotadas da meia-noite, e ela não entendia o porquê de toda a euforia forçada que se vivia à sua volta. Copos a bater, passas, beijos, abraços, demasiado contacto fisico, entre gente nojenta que na realidade não se suportava. E ela continuava sem perceber porquê a euforia, e pior que isso, porque é que não se contagiava com ela. Porque seria que nenhuma daquelas criaturinhas irritantes a tentara abraçar e lambuzar num beijo peganhento e claramente indesejado? Porque é que ela não se sentira tentada a gritar e bater panelas à janela como todas aquelas coisinhas? Não lhe faltava nada. Tinha arranjado uma garrafa daquela mistela intragável, cheia de bolhinhas, uma mão cheia daqueles frutos absolutamente imprestáveis, e que já tinham com certeza passado a altura de serem comidos. Vestira uns trapitos com lantejoulas e prendera o cabelo num apanhado complicado, cheio de ganchos, que quase lhe furavam o craneo e lhe sugavam os miolos. Mas mesmo assim não se conseguira contagiar.
Aliás, agora que reparava bem, nem sequer ouvia a música, que de certo era atroz, uma brasileirada qualquer de gosto mais que duvidoso. E se olhasse mesmo com atenção, nem distinguia os movimentos das pessoas. Agora que via mesmo, mesmo bem... há quanto tempo estaria a olhar para aquela velha fotografia?
Aliás, agora que reparava bem, nem sequer ouvia a música, que de certo era atroz, uma brasileirada qualquer de gosto mais que duvidoso. E se olhasse mesmo com atenção, nem distinguia os movimentos das pessoas. Agora que via mesmo, mesmo bem... há quanto tempo estaria a olhar para aquela velha fotografia?
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