sábado, maio 13, 2006

Tenho Fome...

Um chocolatinho só. Ele está ali há tanto tempo na gaveta a sussurrar baixinho para que o libertem. Na realidade eu até acho uma crueldade nos dias de liberdade em que vivemos, aprisionar pobres chocolatinhos em gavetas, ou despensas, ou pior ainda em frios gulags de prateleiras de frigorífico. Tudo bem, ainda há uma hora atrás libertei toda uma feijoada dos seus grilhões da panela, mas que hei-de fazer se já um pequeno roedor se apoderou de todo o espaço livre do meu estômago, fazendo-me desconcentrar de todas as tarefas em que deveria estar empenhada? Acho que o melhor mesmo é acabar de vez com aquele chocolatinho e voltar ao trabalho que se faz tarde.
Agora sinto-me bem, nada como libertar os oprimidos e faze-los entrar nas fileiras dos que trabalham em prol do colesterol e do ataque cardíaco rápido e eficaz. Sim, para quê tentar viver até aos 100 anos, carregada de alzheimer, parkinson, outros senhores estrangeiros que nos lixam a vida, quando a dieta adequada nos pode livrar de tanta dor e sofrimento? É certo que o meu corpinho de sereia já emigrou para o Canadá, e de forma legal, porque não me parece que a este ritmo ele vá voltar. Tudo bem que as caminhadas são difíceis, que correr atrás dos filhos é uma canseira, mas eles também não se perdem, não é? As crianças têm aquele sentido de pombo-correio, sabem sempre voltar a casa e ao frigorífico recheado. Iogurtes infantis carregados de açúcar, smarties, gomas, pintarolas, reginas, fruta em pacote, leite de sabores. Há que começar cedo a educar as papilas gustativas com as iguarias do século XXI.
O chocolate já se foi, o ratinho no estômago também, se calhar o melhor é ir pensando no jantar, que não quero que ninguém passe fome cá em casa.