terça-feira, setembro 05, 2006

Mirava o seu corpo despido em frente ao espelho, tentando perceber se gostava do que via. Estava claramente bronzeada, e agradavam-lhe as marcas subtis deixadas pelo bikini, testemunhas de bocados bem passados descansando ao sol. Gostava dos ossos saídos das ancas que realçavam a sua extrema magreza, o peito pequeno e empinado, a pele lisa e sem uma única estria.
Os olhos castanhos-claros emolduravam-lhe um rosto expressivo e ossudo, e os cabelos bem tratados desciam-lhe pelas costas como um mar revolto. No geral era uma mulher muito atraente.
Pegou no vestido depositado na cama sem cerimónias, e vestiu-o com cuidado para não enrugar. Calçou as sandálias altas com que tinha treinado o caminhar tantas vezes, e deu uns passos hesitantes pelo quarto. Apanhou o cabelo dum modo simples, mas eficaz, que lhe garantia estabilidade para todo o dia, e maquilhou-se duma forma cuidada e suave.
Respirou fundo, olhou pela janela para a azáfama da rua, e aproveitou os últimos minutos de calma que o seu quarto lhe proporcionava. Para fora daquela porta esperava-a o caos. Pais, amigos e familiares perdidos no tempo, um fotógrafo intrometido e pertinente, muitas dezenas de pessoas a exigirem o seu cuidado e atenção, naquele que supostamente era o seu dia. Pessoas desconhecidas que passariam a ser família, amigos novos que ganhara, gente que gostava e alguns que não suportava. E a todos teria de cumprimentar com um sorriso.
Para lá daquela porta a vida que a esperava nunca mais seria a mesma.