Convite de fim-de-semana
Há rituais que se repetem, e este ela repetia-o frequentemente. O sexo, o risco, o total desrespeito pelas convenções sociais estimulavam-na como mais nada o fazia.
Costumava escolher um cinema tranquilo, mas isso existia cada vez menos na cidade. Agora ia mais às sessões da meia-noite.
Entrava devagar, sem ser notada. Ficava num canto, observando todos, escolhendo a “vítima”. Aproximava-se, sentava-se, não dizia nada. Deixava que a sua proximidade indesejada fosse sentida como um incómodo.
Começava por lhe passar as mãos nas pernas, apertando forte. Os homens não estão habituados a este tipo de abordagem, sentem-se intimidados, e optavam quase sempre por não dizer nada. Raramente tiram os olhos do ecrã, como se não fosse real o que lhes estava a acontecer. Ela olhava-os. Todos os seus gestos a excitavam, a sua atrapalhação, o espanto.
Desapertava-lhes as calças, deslizava a mão lá para dentro, acariciava-os. Adorava sentir as suas respirações alteradas, o ajeitar na cadeira, sem saberem se se haviam de por a jeito ou tentar fugir.
O abafar dos gemidos, o desconforto, o prazer não consentido, tudo isso a punha fora de si. Atingir o clímax deles era a meta dela. Depois disso, levantava-se, saía e voltava para casa.
Nessa noite conseguiu dormir.
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