quinta-feira, janeiro 13, 2005

Mente Negra

Sorria-lhe com um olhar vazio, e acenava com a cabeça, fingindo estar interessada no seu discurso inflamado mas sempre igual, e cheio de lugares-comuns. Mas no interior do seu cérebro passavam a uma velocidade vertiginosa imagens em que se via claramente a esfaquear, lenta e dolorosamente, a figura que se encontrava à sua frente. Via-a contorcer-se com dores, a gritar, a pedir socorro e clemência, até finalmente cair no chão, inerte.
Aí recomeçava o filme. Agora era com uma corda, apertava-lhe o pescoço fortemente, via os matizes do seu rosto a mudar até chegarem a roxo, e sentia então todo o peso da figura a deslizar para o chão, já sem respirar.
E tudo voltava ao inicio. Agora empurrava a cabeça da figurinha contra uma tina cheia de água, obrigando-a a calar aquela boca que nunca estava fechada, sempre a emitir opiniões como quem é dono do mundo.
Sorriu vagamente e ouviu-se dizer: “Sim, claro. Tens toda a razão.”