terça-feira, fevereiro 01, 2005

No Circo

“És tão engraçada! Conta lá mais uma história das tuas.” E ela contou, mais uma das suas histórias divertidas, que entretinham toda a gente à sua volta, e os mantinha sempre a sorrir.
“Vejam, ouçam os meus relatos cómicos, riam-se comigo. Assim não percebem que eu estou aterrorizada, que vocês me assustam, que morro de medo que vocês me agridam. Eu sei que não passo despercebida, que me vão ver entrar, estar e falar. Por isso ataco primeiro, falo, rio, monopolizo as atenções. Ridicularizo os meus pontos fracos, para não serem vocês a fazê-lo. Choro por dentro, enquanto as lágrimas de riso vos enchem os olhos. Sou sarcástica, ácida, venenosa. Porque sou imune ao meu veneno, não me mata como o vosso.”
Mais uma vez contou as suas peripécias dum modo irresistível, inundou a mesa de risos, agiu como a boa companhia porque é conhecida. Não desiludiu quem ia de propósito para a ver actuar, nem aqueles que a levaram para mostrar, esteve à altura de toda a situação.
Chegou a casa com a sensação de dever cumprido, sentou-se na cama, retirou as pinturas, o nariz vermelho, e chorou.