sexta-feira, maio 13, 2005

Convite de Fim-de-Semana

Já se falavam há imenso tempo, em cafés de fim de tarde e encontros fugazes numa sala de cinema. O clima de desejo estava sempre presente, envolvia-os e adormecia-lhes os sentidos. Era dificil para ela dar o passo a seguir, e nem tinha a certeza de saber como dá-lo.
Uma tarde, igual a tantas outras em que se encontraram no café do costume, deu-se finalmente o clic que faltava. Decidiram na hora libertar as hormonas reprimidas por tanto tempo, e seguiram para o apartamento dele no centro da cidade. Subiram as escadas intermináveis tocando-se num frenesim, com beijos loucos, as mãos dele no rabo dela, tropeções em degraus que não era suposto ali estarem.
Quase caíram no chão quando a porta finalmente se abriu, e começaram ali mesmo a despir-se, no meio do corredor com pouca luz, um turbilhão de mãos, línguas e roupas.
Camisolas fora, as mãos dele agarraram os seus seios com voracidade, apertaram-nos, e deslizaram para um fecho reticente, que teimava em não abrir. Ela nunca haveria de perceber porque raio os homens podiam ser brilhantes físicos nucleares, mas desconheciam os mistérios do funcionamento da roupa interior feminina. Quando os dedos dele estavam à beira de dar um nó irreversível nas alças do seu soutien, ela correu finalmente em seu auxilio, e acabou despindo-se o mais sensualmente que conseguiu.
Tirou a camisola dele, deixou à vista o seu peito definido, e uma barriga lisa. Olhou-o nos olhos, e percebeu pelo seu ar aflito, que ele estava a suster a respiração. Fez-lhe cócegas e ele não resistiu, descontraindo-se e deixando a descoberto uma barriguinha acumulada por anos de cervejas geladas com os amigos. Menos mal, assim já não tinha moral para reclamar das tabletes de chocolate que estavam armazenadas nas suas coxas.
Tiraram ambos as calças, e ela mal pode reprimir uma gargalhada ao ver uns boxers azuis eléctricos, carregados de ursinhos carinhosos em pijama. Eternas crianças grandes, os homens. E só quando retirou o seu sensual fio dental se apercebeu dum volume estranho. Bolas, mais a porcaria do pensinho dia-sim-dia-sim. Deu um discreto pontapé naquele espectáculo demasiado feminino para os olhos de qualquer homem, empurrando tudo para baixo do sofá. Quando se fosse embora, logo se preocuparia em recuperar os despojos espalhados. Pelo menos tinha ido à depilação naquela semana, senão ele bem poderia sonhar, e ela morrer de vontade, mas não aconteceria nada. Depois dum longo inverno a usar calças, uma mulher não pode ser apanhada desprevenida, correndo o risco de fazer inveja ao próprio King-Kong. Mas mulher prevenida vale por um ror de homens despassarados, e ela tinha ido ao desbaste antes que fosse tarde demais.
Um beijo profundo, com o hálito fresco duma pastilha de mentol, despertou-a desses pensamentos mundanos, e fê-la mergulhar definitivamente nos braços há muito apetecidos.