Noé II
Noé era rei e senhor da sua Arca. Mandava, punha e dispunha, disciplinava os seus casais de feras selvagens. Deus tinha-lhe incumbido essa tarefa, enquanto ele próprio tratava das fúrias dos ventos e mares, do extermínio dos infiéis e da maldade do mundo, para purificar o coração dos homens.
E enquanto o mundo desabava cá fora, os oceanos lambiam nervosamente vastas extensões de terra e tudo rugia intensamente, Deus tinha uma mão protectora sobre a Arca dos seus escolhidos.
E lá dentro tudo desabava também. As serpentes deixavam toda a gente nervosa, com os seus modos reptilineos e dissimulados, os rinocerontes levavam tudo à sua frente, para os hipopótamos nunca nada estava bem feito. Os leões começavam a estar fartos de se alimentarem de fardos de palha, e tinham demorado um pouco a perceber que o compartimento dos ruminantes não era a sua dispensa privada. Infelizmente o Noé não tinha chegado a tempo de impedir o extermínio dos Dodos, pois quando lá chegou nada mais restava que umas penas a esvoaçar pelo ar, e uma patita espreitava ainda no meio dos dentes de sabre dum belo tigre asiático.
O pior era como ocupar os tempos mortos de tanta bicharada. Noé e a sua família estavam sempre ocupadíssimos com toda a manutenção da embarcação, e com a hercúlea tarefa de manter os animais felizes. Mas para estes era mais complicado. Os grandes bisontes das estepes, e os seus primos das savanas ressentiam-se muito com a falta de exercício, e as longas horas de bridge no convés já não chegava para os animar. Os ratos e outros roedores tinham um circuito de manutenção próprio, labiríntico, e os seus amigos felinos tinham um mesmo ao lado, com vista privilegiada, estando assim numa perseguição perpétua, que não levava a lado nenhum.
Mas nenhum sofria tanto como o casal de elefantes, encolhidos num canto demasiado pequeno, sem poderem caminhar alegremente, sob pena de partirem as tábuas da Arca. Esses passavam o tempo a ler livros antigos, estudar os mapas da nova Terra, a imaginar como seria o novo sítio onde iriam viver. E nos dias mais agitados, com mar mais revolto e Deus mais irado, os bichos mais pequenos iam fazer-lhes companhia, aproveitando o apoio seguro das suas patas fortes e carnes rijas, e ouvir as histórias de fantasia que eles tinham aprendido nos livros.
E enquanto o mundo desabava cá fora, os oceanos lambiam nervosamente vastas extensões de terra e tudo rugia intensamente, Deus tinha uma mão protectora sobre a Arca dos seus escolhidos.
E lá dentro tudo desabava também. As serpentes deixavam toda a gente nervosa, com os seus modos reptilineos e dissimulados, os rinocerontes levavam tudo à sua frente, para os hipopótamos nunca nada estava bem feito. Os leões começavam a estar fartos de se alimentarem de fardos de palha, e tinham demorado um pouco a perceber que o compartimento dos ruminantes não era a sua dispensa privada. Infelizmente o Noé não tinha chegado a tempo de impedir o extermínio dos Dodos, pois quando lá chegou nada mais restava que umas penas a esvoaçar pelo ar, e uma patita espreitava ainda no meio dos dentes de sabre dum belo tigre asiático.
O pior era como ocupar os tempos mortos de tanta bicharada. Noé e a sua família estavam sempre ocupadíssimos com toda a manutenção da embarcação, e com a hercúlea tarefa de manter os animais felizes. Mas para estes era mais complicado. Os grandes bisontes das estepes, e os seus primos das savanas ressentiam-se muito com a falta de exercício, e as longas horas de bridge no convés já não chegava para os animar. Os ratos e outros roedores tinham um circuito de manutenção próprio, labiríntico, e os seus amigos felinos tinham um mesmo ao lado, com vista privilegiada, estando assim numa perseguição perpétua, que não levava a lado nenhum.
Mas nenhum sofria tanto como o casal de elefantes, encolhidos num canto demasiado pequeno, sem poderem caminhar alegremente, sob pena de partirem as tábuas da Arca. Esses passavam o tempo a ler livros antigos, estudar os mapas da nova Terra, a imaginar como seria o novo sítio onde iriam viver. E nos dias mais agitados, com mar mais revolto e Deus mais irado, os bichos mais pequenos iam fazer-lhes companhia, aproveitando o apoio seguro das suas patas fortes e carnes rijas, e ouvir as histórias de fantasia que eles tinham aprendido nos livros.
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