quarta-feira, junho 29, 2005

Inspire, Expire

Sentou-se no chão, costas bem direitas e pernas cruzadas. Inspirou bem fundo, e expirou. Inspirou, expirou. Inspirou, expirou. E continuou a faze-lo até conseguir não pensar, fazer apenas mecanicamente. Depois poderia levantar-se e seguir com a sua vida normal.
Desde miúda que isto lhe acontecia. Às vezes, sem saber porquê, nem como, esquecia-se de como se respirava. Pura e simplesmente deixava de o fazer, porque deixava de se lembrar como era.
Não sabia dizer se eram os movimentos que falhavam, ou a sua sequência correcta, mas tudo deixava de funcionar.
Nessas alturas tirava o livro de instruções da pequena bolsa de couro que trazia ao pescoço, abria-o à sua frente e sentava-se no chão de costas bem direitas, pernas cruzadas, e reaprendia tudo de novo. Pena é que dispunha só de dois minutos para o fazer...

domingo, junho 26, 2005

Arraial Pride

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Há qualquer coisa de muito erótico em ver dois homens jovens e bonitos darem um beijo. Tem uma voracidade animal que não se encontra facilmente.
É extremamente sensual e delicado duas mulheres que se beijam, femininas e suaves.
Estive no Arraial Pride, mais uma vez. É o local onde todos os estereótipos se encontram, e onde todos caem por terra. Onde se pode circular sem se ter um rótulo associado, a não ser que se queira. Ali, eu poderia ser lésbica, heterossexual, ou mesmo um travesti, que quem me rodeava não o saberia.
E fui apenas eu, a dançar, e a deixar-me contagiar pela onda de alegria exuberante que invade aquele espaço.

sábado, junho 25, 2005

Os meus companheiros de praia

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Foto de Sónia Almeida

segunda-feira, junho 20, 2005

Contradança

Move-se lenta e sensualmente, oferecendo uma visão das nádegas ao homem que se encontra sentado à sua frente, naquele cubículo sujo. Uma música antiquada e untuosa enche todo o ambiente, e proporciona-lhe uma cadência erótica para abanar as carnes flácidas. A sua pele há muito que perdeu o brilho que deslumbrara a todos, e o cabelo já não era sedoso e brilhante como noutros tempos. Ela fora a mulher mais requisitada da cidade, prostituta de tão alta classe que merecera uma designação à parte, “acompanhante”.
E era isso que ela fazia, acompanhava os homens de negócios a festas e reuniões, fazia-os sentirem-se importantes e sedutores, olhava para eles com uma falsa pose de deslumbramento. Quando eles lhe agradavam, eram suficientemente bonitos e se interessavam por ela, dormia com eles, à laia de prémio máximo. Nessa altura era-lhe permitido escolher, e as suas conquistas, embora pagas a peso de ouro, gabavam-se por toda a cidade de a terem possuído.
No fundo, ela achava-os todos uns imbecis. Os homens não lhe mereciam consideração, e tratava-os como mera fonte de rendimento, embora os deixasse sempre na ilusão que eram eles os dominadores daquela transacção.
Mas os anos foram passando, e o seu lugar era seriamente cobiçado por muitas pós-adolescentes, com corpos de ferro, moldados em longas horas de ginásio, e por vezes, algumas de cirurgia. A experiência, que lhe garantia mesmo assim um lugar de topo, foi-se deixando ultrapassar pela acção da gravidade. Subitamente, o seu corpo já não era tão apetecível, os seus olhares lânguidos estavam vulgarizados, e os clientes já não se sentiam especiais por desfilarem com ela pelo braço.
Muitos continuavam a requisitá-la, mais por hábito adquirido, do que por vontade verdadeira. E ela, que sempre vivera acima das suas posses, encontrava-se numa espiral descendente, cada vez com menos dinheiro par se sustentar, e menos capacidade para o conseguir.
Nunca chegara a ser prostituta de rua, não conseguiria descer a esse patamar, preferia morrer de fome. Agora era uma “bailarina exótica”, num clube de quinta categoria, dançava fechada numa montra, protegida dos velhos desdentados e babosos que se masturbavam à sua conta. Tinha orgulho nos seus peitos caídos, que tinham sido amassados por tantas mãos, nas suas coxas, agora com celulite, mas que tinham sido verdadeiros troncos de árvore que enlouqueceram muitos homens.
Meneava as ancas, com um dissimulado sorriso de desprezo nos lábios. Sabia que ninguém o veria, ninguém olha na cara duma pessoa como ela, foi a primeira coisa que aprendeu quando entrou naquela vida. As putas não têm cara, nem coração, e só assim são felizes.

sexta-feira, junho 17, 2005

UFFF!!!

Tenho a certeza que vi uns diabinhos vermelhos a sairem das sarjetas hoje...
o Inferno chegou definitivamente à Terra.

quinta-feira, junho 16, 2005

Horas Negras Se Aproximam

Pois é, não tenho andado muito escrevedeira. Estou um bocadito deprimida. Hoje é o meu ultimo dia de trabalho, acabou o meu contrato, e amanhã já estou novamente em casa desempregada.
E mais não digo, se me quiserem encontrar, estou em baixo da minha cama a chorar.

quarta-feira, junho 08, 2005

A Queda

Havia dias em que se sentia assim, poderosa, dona do mundo. Tinha vestido a lingerie certa, que a fazia sentir sexy. A roupa tinha a melhor combinação de cores para abrilhantar o seu tom de pele, a forma perfeita para realçar as suas curvas, todo o conjunto estava harmonioso. Dava passos seguros com as suas botas de salto alto, que lhe acompanhavam a barriga das pernas num desenho delicado. A cada passada, o chão estremecia debaixo dos seus pés.
As cabeças voltavam-se à medida que ela passava, as mulheres com inveja espelhada nos olhos, os homens com um ar de desejo a queimar-lhes as entranhas. Ninguém ficava indiferente ao poder animal que ela emanava naquela manhã, e que via reflectido na sombra negra e esguia que projectava ao sol do meio-dia.
Cruzou uma esquina com o seu passo decidido, de nariz levantado ao alto, não viu o desnível que o chão fazia a seus pés. Torceu o tornozelo delicado, desiquilibrou-se, e nesse momento a sua sombra ergueu-se, imponente, mais alta que uma árvore secular, empunhando uma adaga negra como ela.
Apunhalou-a repetidas vezes, com um sorriso sádico nos olhos sem cor, perfurando as carnes moles e o orgulho duro. Com um golpe final, mais profundo que todos os outros, e coroado com um beijo gélido, abandonou-a deitada no chão, a esvair-se em auto-estima.
Quando finalmente se levantou, depois do que lhe pareceu ter sido uma eternidade, não passava duma baixota sem graça, uma mulher desinteressante e feia, com roupas demasiado provocantes, cores desenquadradas e mal conjugadas, num corpo desenhado por um artista sem talento. Correu desajeitadamente para casa, onde se podia esconder do mundo e redesenhar-se para enfrentar o dia seguinte.

quinta-feira, junho 02, 2005

A Última Fantasia Sexual por Realizar

Fazer amor com um homem que ame, e que me ame a mim.