segunda-feira, março 27, 2006

Guerra das Macros


Sabem que não sou muito de aceitar estes desafios bloguisticos, não por algum motivo em especial, mais por inércia natural. Mas desta vez não consegui resistir à proposta da Formiguinha, e à sua Guerra das Macros. Também porque sou uma grande fã de fotografia, apesar das minhas limitações nesse campo. Assim, aqui vai uma que tirei no verão passado a um grilo que se passeava no chão da minha avó, e que eu já tinha colocado na minha galeria.

terça-feira, março 21, 2006

História Primaveril - Final

Entretanto ele andara por caminhos novos e velhos, saboreando umas minhocas, falando com aves e outros animais, tomando o pulso à Primavera pela verdura dos rebentos novos dos ramos das velhas árvores. O ar já cheirava a terra morna e polen novo, e sentiu que nesse dia era impossível alguém estar infeliz. Tomou o caminho do riacho, para ver as libélulas novas, as primeiras borboletas, e se tivesse mesmo sorte, ainda lhe podia calhar uma que voasse mais lentamente. Isso é que ia ser cá um manjar de primeira qualidade.
Virou a esquina do terreno, olhou mais para baixo e teria caído de cu no chão, se isso fosse anatomicamente possível a um ouriço. Que criatura dolorosamente bela era a que se banhava nas águas novas do ribeiro? Os picos das costas eriçaram-se de excitação, e quase voou encosta abaixo, parando a meio para manter uma certa dignidade e postura conquistadora. Como era possível nunca a ter visto, nos seus anos de deambulação por aquele terreno acidentado? Que beleza, que perfeita a coloração dos espinhos sólidos e delicados, a penugem que lhe cobria a pele nua tinha um aspecto sedoso e reluzente como nunca vira.
Chegou à beira do riacho de peito enfunado como as velas duma caravela, olhar meloso, e a ensaiar mentalmente as suas melhores frases de sedução. Sabe muito bem que as ouriças são terríveis, não se entregando a qualquer um. Sempre rabugentas, dificilmente se deixam conquistar sem luta. Mas com luz nos olhos doces e um piscar de pestanas irrepreensível, lá foi ele em busca do seu alvo.
Ela ficou surpreendida e assustada por alguém interromper o seu banho, mas não desgostou do aspecto garboso do belo macho que se aproximava. Exalava “bom reprodutor” por todos os espinhos, e até ela que era difícil de contentar ficou bastante impressionada. Mas se ele julgava que ela se rendia por dá cá aquela palha, estava muito enganado. Teria muito que penar. Voltou-lhe as costas decidida, mas com um meneio de ancas que o convidava a continuar a corte.
Ele ganhou coragem e entabulou conversa, banalidades primeiro (“Com que então estamos na Primavera, hein?”) de fazer torcer de desespero qualquer Casanova. Mas com o continuar da conversa foi ganhando confiança, derretendo as defesas dela, eriçando os espinhos ao sol, mostrando a sua admiração.
A primeira noite que passaram juntos foi problemática, ele ficou com um pico espetado na pata traseira, e ela deu um jeito às costas para tentar não o magoar. Mas com o passar do tempo acabaram por se compatibilizar. Duas primaveras passaram já, duas gerações de ouricitos mais povoam aquele bosque, aterrorizando minhocas e borboletas novas. Os besouros, esses, cresceram e multiplicaram-se.

domingo, março 19, 2006

História Primaveril - 2

Na outra ponta do bosque, à mesma hora, debaixo duma raiz levantada, ela mexeu-se pachorrenta. Piscou os olhos incomodada pelo sol, abanou-se para sacudir o orvalho e a poeira acumulada, virou-se, cobrindo os olhos com uma folha velha, e deixou-se adormecer de novo. Estava cansada, rabugenta, farta da mesma rotina, e já não queria mais. Ia deixar-se ficar sossegada naquela manhã, e quem sabe quantas mais. Não havia necessidade de sair dali, nem mesmo para comer. Havia sempre um besouro distraído que pousava nela por a julgar inerte, e encontrava aí o seu fim. Um besouro por dia dá força e apatia, costumava ela pensar. Se calhar era um problema de dieta. Ignorou os pensamentos, virou-se para o outro lado, e caiu novamente num sono pesado.
Era muito bela, de pelinhos luzidios cobertos por uma sólida camada de espinhos bem afiados. Mas no verão passado perdera uma patinha e o alento numa luta com um toirão esfaimado. A escassez de boa comida atacava a todos, agora que o bicho homem tomara conta de todo o bosque, e ela não levara o ataque como uma questão pessoal. Mas tinha ficado desanimada, sem vontade de caminhar e calcorrear a erva fresca. Quem sabe os perigos que espreitam por trás de cada ramo, cada folha, ou cada lomba do caminho?
Quando a solidão apertava lá ia ao encontro dos seus velhos amigos, desanuviar um bocadinho, petiscar umas minhocas, mariscada da melhor, apanhar um pouco de sol para corar os espinhos.
Naquela manhã em particular não conseguiu voltar a adormecer. Um estorninho irrequieto não se calava, anunciando a primavera, mesmo por cima da sua cabeça. Estava feliz o raio do pássaro, sabe-se lá porquê. Se não se afoita, ainda acaba numa gaiola a cantar em casa de alguém. Fartou-se de estar deitada, e resolveu que era dia de ir até ao riacho, ver o seu reflexo, ajeitar a penugem e o aspecto em geral, que vem aí o tempo quente e há que celebrá-lo. Pata a mais ou a menos, continuava a ser uma moça bonita, e os tempos de luto tinham que acabar.
Levantou-se vagarosa, dirigiu-se em passos curtos pelo caminho mais seguro, petiscando umas formigas preguiçosas pelo caminho. Esta luz do sol dava-lhe uma fome.
Chegou ao riacho mais rápido que esperara, e mirou o seu reflexo. Afinal era mais bela do que se lembrava, apesar das folhas de relva presas nos espinhos rebeldes. Ajeitou-se com cuidado, penteou-se, e voltou ao seu máximo esplendor.

sexta-feira, março 17, 2006

História Primaveril - 1

Levantou-se bem disposto e com um sorriso nos lábios, como todas as manhãs. Era muito solar, agradecia a entrada do sol na sua vida, e apagava-se como uma vela no final de um dia agitado. Caminhou mole e desajeitadamente, com a preguiça a ser expulsa lentamente dos seus membros trôpegos.
Começou sua higiene matinal com cuidado e dedicação. Limpou as patinhas de encontro à erva orvalhada, esfregou o focinho até espantar o torpor, e poliu carinhosamente cada um dos seus espinhos. Mirou-se no reflexo da sua poça, ajeitou os pelinhos da testa e gostou do resultado. Era um belo ouriço-cacheiro. Encheu o peito de ar, rodopiou sobre si mesmo, e partiu garboso pelos caminhos.
Não percebia porque ainda estava só sendo tão belo. Tinha muitos amigos, e tivera a sua quota parte de namoradas, mas faltava-lhe ainda a companheira de vida, a que lhe proporcionaria descendência e estabilidade. Ainda o ano passado tivera um tórrido romance com uma doninha belíssima, de pelo lustroso e olhar doce. Mas acabara abruptamente quando ele percebera que as intenções dela eram mais alimentares, e separaram-se litigiosamente, ele mais careca e ela com um considerável número de espinhos a mais no lombo. Demorara muito tempo a recompor-se. A sua confiança nos outros fora seriamente abalada, já para não falar nos danos quase irreversíveis que a sua vaidade sofrera.
Mas regressado à Primavera, o seu coração estava de novo disponível, e as suas hormonas novamente activas. Saía todas as manhãs com forças redobradas, procurando uma noiva séria que caminhasse com ele. Fazia curtas paragens para comer um escaravelho ou uma cigarra mais incauta, que precisava de se manter bem alimentado. Nada como mostrar que se tem bons genes para a troca, para atrair a esposa certa. Percorria os mesmos caminhos ancestrais, e por vezes aventurava-se mesmo por outros, na sua busca diária.

terça-feira, março 14, 2006

Depois da Festa...

... e do bolo de chocolate/anos/arroz doce, estou magrinha, magrinha como um pinguim imperador. ;)

domingo, março 12, 2006

31


Mais um ano, cada vez mais perto da juventude apenas de espírito.
Bem, não posso ficar aqui mais tempo, tenho uma cobertura de um bolo de chocolate para fazer...

quinta-feira, março 09, 2006

Na Aldeia

Sentou-se no alpendre. Estava frio, e nem o sol que a cobria a conseguia aquecer, o frio vinha de dentro, do gelo do coração, dos pensamentos apertados. Olhava para a foto já gasta, mas não a via. Na realidade não estava ali, no alpendre da casa velha que lhe servia de lar desde que nascera, e que conhecia de cor, no meio daquela aldeia pequena de espírito, que lhe fora cortando as asas à medida que crescera. Estava a milhares de quilómetros de distância, algures em África, numa terra que apenas conhecia de ouvir o pai falar nos seus sonhos de menina.
A mãe morreu quando eram pequenos, e ela ficara com os irmãos a cargo. Alimentara-os, vestira-os, e cuidou dos rebanhos enquanto eles iam para a escola aprender a ler. Tentavam ensinar-lhe as letras quando chegavam a casa, mas ela já estava embrenhada nos remendos, no jantar, nas preocupações do dia seguinte. O pai lavrava as terras dos que tinham partido para Lisboa, a troco duma pequena percentagem dos lucros. Passava pouco tempo em casa, e habituara-se a ver nela a segunda esposa, a mãe de família, o seu pilar. À noite ia para a taberna, junto com os outros homens, e voltava quando todos estavam deitados, para ninguém perceber as lágrimas de vinho que deitava.
Os anos foram passando assim. Aos domingos iam à missa, almoçavam todos juntos, e o pai contava as histórias da África prometida, do eterno calor, animais estranhos e promessas de felicidade. Os irmãos foram crescendo e buscando vidas diferentes. Mais estudos, melhores trabalhos, trocaram o pó da terra pelos fumos das cidades. Ela foi ficando, acompanhando o pai, as garrafas de vinho, as histórias cada vez mais raras e distantes.
Os irmãos nunca aparecem agora. Já não têm raízes na terra que os amamentou, espalharam os ramos por outras veredas. O pai desapareceu no fundo duma garrafa de vinho, e as cabras foram morrendo ou sendo vendidas.
E as tardes passam-se assim, no alpendre, com a garrafa do vinho que abafa o coração, e dá cor às faces, os pensamentos numa terra distante, onde ainda se encontra o pai com o macaco no ombro.

terça-feira, março 07, 2006

Lista de Presentes

Para quem está sem ideias quanto ao que me oferecer no dia 12, aqui vão umas ideias acessíveis e de fácil execução:
1 - 1 emprego.
2 - 1 viagem à Nova Zelândia, de prefência combinada com 1.
3 - 1 moço simpático que me ature, de preferência combinado com 1 e com 2.
4 - umas 3 folhas de selos para a Europa, e outras tantas para o resto do mundo.
5 - qualquer dos seguintes itens já me deixava com um sorriso nos lábios durante semanas: uns brincos, ou uma mala, ou um perfuminho, ou um postal, ou um beijinho, ou um telefonema, ou um email, ou uma flor, ou...

domingo, março 05, 2006

Postais

Pois tenho andado chocha, e arredada, mas esta ausência prologou-se também pela tarefa titânica que tive entre mãos. Estive a fotografar (sim... não tenho scanner) todos os meus postais, e a po-los online.
Podem encontra-los no meu novo blog que existe apenas com esse propósito. Está em inglês para ser acessivel a toda a comunidade Postcrossing.
E pronto, a emissão retoma dentro de momentos.