segunda-feira, maio 29, 2006

Visões Apocalípticas

Algo se passa no reino da Dinamarca, ou melhor dizendo, em Portugal. E não preciso de o referir, que está à vista de todos. Já nem me refiro exclusivamente a este calor brutal que se faz sentir, que nos faz derreter por todos os poros, e reduzirmo-nos à nossa insignificância de sermos 73% de água a ferver. Mas olhem à vossa volta amigos, e verão a que me refiro. Eles andam aí, devagar, sub-repticiamente, a invadir-nos o planeta. Senão, vejam comigo:
Facto 1: Em casa da minha comadre, quinta-feira passada, um enxame de vespas cobriu-lhe todo o tecto da cozinha. Diz quem viu, e as enxotou, que foi uma visão aterrorizadora e dantesca.
Facto 2: Este sábado nas praias da Costa da Caparica deu-se uma tal invasão de mosquitos, que forçou as pessoas a refugiarem-se na água, ou a sair da praia enroladas em toalhas. Isto foi presenciado pela minha amiga Ritinha, que se encontrava no local.
Facto 3: Hoje entrei na casa de banho para tomar a minha banhoca, e deparei-me com mais de 10 mariposas a sobrevoar em pleno dia. Depois de algumas notas agudas (o que querem, coisas com 3 pares de patas afligem-me), da ajuda pronta da minha mãe, lá se reduziram a 3.
Facto 4: Mais do que um caso registado na capital de invasão domiciliária por osgas, o que só prova que há mais insectos dentro que fora das nossas casas.
Depois de todos estes factos analisados, torna-se evidente para mim, e para todos os que viram a miséria do Starship Troopers em repetição contínua na SIC, TVI, ou qualquer outro canal temático cujo tema é “trampa”, que a invasão já começou. Amigos, raciocinem comigo: a Era dos dinossauros teve um fim. Eles andavam todos contentes, nas suas casinhas, enquanto uns macacoides andavam pelo chão e escondidos nas árvores, a planear invadir-lhes os habitats e transforma-los em sapatos de alta costura.
Agora chega o tempo da vingança. Começou a nossa lenta substituição pelos artrópodes, aqueles seres injustiçados que pereceram esmagados tantas vezes debaixo dos nossos pés, ou cozinhados com sal e limão.
Eu da minha parte já deitei fora todos os insecticidas e mata-moscas, em busca de um lugar como colaboracionista dos invasores. Depois não digam que eu não avisei.

sábado, maio 27, 2006

Change My Taste in Men


Ontem, grande noite de Super Bock Super Rock, com Alice in Chains, Placebo e Tool. Os primeiros já não consegui ver tudo, mas pareceram-me renascidos, tal como dizia na faixa que mostraram no fim. Entretanto fomos jantar calmamente, ver as vistas, enquanto davam os horriveis Deftones.
Depois o momento intimista da noite. Eu, o Brian Molko, e mais uns milhares. Pode estar uma míriade de gente à volta, que um concerto duma banda assim nunca deixa de ser um momento só nosso.
There are twenty years to go
A golden age I know
But all will pass will end too fast, you know
E por fim os Tool. Muito, muito bons. Música muito poderosa, impossível ouvir sem mexer, tocaram todas as minhas favoritas do Aenima.
Uma noite de coração cheio, músculos contentes, corpo satisfeito de ritmos, olhos brilhantes de cores.

sexta-feira, maio 26, 2006

Vacas no Saldanha




O jantar mensal de gajas foi pretexto para ver as vacas do Saldanha. A minha favorita é esta Taxi-Vaca, com os puxadores e tudo. O mais triste nesta exposição de rua, são as vacas que já foram danificadas, vandalizadas. Alguns engraçadinhos acharam por bem imortalizar os seus nomes nalgumas destas peças. É nestas alturas que eu sinto pena da falta de civismo de muitos portuguesinhos.

segunda-feira, maio 22, 2006

Histórias Verídicas

Chamem-me tradicional, mas sou muito cuidadosa de com quem durmo. Não sou moça de andar para aí a dormir com este e com aquele que se me aparecem à frente. Se bem que nas Travessas, terra do meu coração, onde vou com regularidade passar férias como vocês bem sabem, já desenvolvi uma certa tolerância e mesmo uma certa flexibilidade, levando-me a ter padrões mais alargados, aqui por Lisboa continuo a ter os meus pruridos, e a ser mais selectiva.
Não falando nas moscas, melgas e mosquitos, que entram sem ser convidados e se apoderam de tudo, lá por terras das beiras qualquer coisa com menos de três pares de patas pode partilhar os meus aposentos. Depois de muita negociação, passar a noite comigo está apenas vedado a centopeias, aranhas cujas patas se ouvem caminhar na parede e pouco mais. Ainda esta Páscoa dormi com uma magnífica e rechonchuda osga, muito cor-de-rosa e deslumbrante. É certo que ainda tentei negociar com ela, pedir-lhe que me deixasse só, invoquei que era um pouco envergonhada. Neste ponto ela cedeu, e escondeu-se atrás do meu espelho da cómoda, o que nos permitiu passar uma noite bastante agradável sem contacto visual.
Aqui pela capital confesso que sou mais picuinhas. Nenhum tipo de aranhas pode compartilhar a minha intimidade, nem formigas, nem qualquer tipo de insectos, nem tipos que me ligam 3 vezes por dia a tentar reeditar noites loucas que tivemos no passado. Esqueçam amigos, é passado, não vai voltar a acontecer.
Posto isto, osgas nunca estiveram em discussão. Por isso amiga cor-de-rosa que te passeias pela parede da minha sala, quase matando a minha mãe de ataque cardíaco de cada vez que eu lhe grito: “Olha aí em cima!!”, vamos ter de resolver isto a bem. Tudo bem que eu sou bióloga, coração de manteiga, não mato animais só por não gostar deles (excluindo dípteros em geral), mas acho que estás a abusar um pouco. Três noites seguidas a rebolares a cauda pela minha humilde residência, sem pagar qualquer tipo de aluguer, espreitando provocatoriamente por trás da cristaleira, acho que é esticar um pouco a corda. Por vontade da minha mãe já estavas com uma moca de Raid moscas e mosquitos, a cambalear daqui para fora. Mas eu, que sou uma santa, tenho deixado passar. Aconselho-te a resolver isto a bem, a saíres pelo teu pé. Eu sei que já disse que queria um animal de estimação, mas não era bem nisto que estava a pensar.

quinta-feira, maio 18, 2006

Auto-Ajuda

«Bem vinda à Jornada Espiritual de Auto-Ajuda do Professor Caramba. Se seguiu as instruções pré-fornecidas, deverá estar neste momento de pé no centro da divisão em que se encontra, completamente relaxada e preparada para iniciar a nossa sessão. Se assim não for, pause este discurso pelo tempo necessário a proceder à sua preparação.
Muito bem, sente-se na esteira que tem à sua frente, de pernas cruzadas, costas direitas, olhos fechados, e concentre-se na sua respiração. Inspire. Expire. Inspire. Expire. Inspire. Expire. Vá tornando a sua respiração mais lenta enquanto visualiza no centro da sua mente um mar imenso à sua frente, azul e profundo, de águas tépidas e com o barulho das ondas como fundo. Concentre-se agora no som das ondas e sincronize a respiração com o seu ritmo. Imagine o mar relaxante, cheio de criaturas felizes, que transmitem para si as suas energias de liberdade e amor. Imagine-se uma só com todos os animais que a rodeiam, os peixes do oceano, as aves do céu, as criaturas terrestres. Imagine-se como parte desse grande plano de amor e felicidade que Deus construiu no mundo e repita para si própria em voz alta:”Eu sou uma criatura de amor!”. Repita essa frase alto e com convicção, até ela se embeber no seu coração e na sua mente.
Levante-se para combater um pouco essa agitação que começo a denotar na sua respiração. Repita em voz bem alta: ‘’Eu sou a dona da minha vida, sou uma mulher de sucesso!’’ Diga-o com convicção e força, de modo que os obstáculos que se encontram no seu caminho se dobrem à sua vontade. Por esta altura os auxiliares medicamentosos que tomou devem ter começado a exercer o seu efeito. Não se assuste se pequenos duendes verdes falarem consigo e a tentem convencer a desistir dos seus propósitos. Submeta-os à sua vontade com o poder da sua mente.
Concentre-se no som das ondas, e modele a sua respiração, não deixe que a agitação tome conta de si. Molde-se com a natureza que a rodeia, absorva a sua energia e interiorize que é uma mulher de sucesso.
Não será necessário continuar a gritar com os duendes verdes. Não se esqueça que eles são produto apenas da sua mente, e são induzidos pelo estado de transe que aflora neste momento. Não, também não será necessário correr atrás do tigre branco. Não, você não é o coelhinho da Alice, e não está atrasada para coisa nenhuma.
Por favor, não ingira mais nenhuma dose dos cogumelos do início da sessão. Não, não trocámos o som do mar pelo último álbum dos Metallica. Mantenha-se sintonizada na minha voz e por favor páre de correr em círculos à volta da sala. Gritar que é o ‘’King of the World’’ é capaz de alertar os vizinhos desnecessariamente. E mandar essas cadeiras pela janela também não foi uma boa opção para a sua paz interior, pois não?
Inspire. Expire. Inspire. Expire... Vá você, sua ordinária.
Não, as sirenes que está a ouvir não são produto da sua imaginação. E esses senhores de colete branco na mão também não. Sim, é aconselhável que vá com eles, até porque eles acabaram de a injectar com um forte sedativo. Divirta-se.
E assim termina mais uma sessão de Auto-Ajuda Espiritual do Professor Caramba. Obrigada por preferir os nossos serviços, e volte sempre.»

sábado, maio 13, 2006

Tenho Fome...

Um chocolatinho só. Ele está ali há tanto tempo na gaveta a sussurrar baixinho para que o libertem. Na realidade eu até acho uma crueldade nos dias de liberdade em que vivemos, aprisionar pobres chocolatinhos em gavetas, ou despensas, ou pior ainda em frios gulags de prateleiras de frigorífico. Tudo bem, ainda há uma hora atrás libertei toda uma feijoada dos seus grilhões da panela, mas que hei-de fazer se já um pequeno roedor se apoderou de todo o espaço livre do meu estômago, fazendo-me desconcentrar de todas as tarefas em que deveria estar empenhada? Acho que o melhor mesmo é acabar de vez com aquele chocolatinho e voltar ao trabalho que se faz tarde.
Agora sinto-me bem, nada como libertar os oprimidos e faze-los entrar nas fileiras dos que trabalham em prol do colesterol e do ataque cardíaco rápido e eficaz. Sim, para quê tentar viver até aos 100 anos, carregada de alzheimer, parkinson, outros senhores estrangeiros que nos lixam a vida, quando a dieta adequada nos pode livrar de tanta dor e sofrimento? É certo que o meu corpinho de sereia já emigrou para o Canadá, e de forma legal, porque não me parece que a este ritmo ele vá voltar. Tudo bem que as caminhadas são difíceis, que correr atrás dos filhos é uma canseira, mas eles também não se perdem, não é? As crianças têm aquele sentido de pombo-correio, sabem sempre voltar a casa e ao frigorífico recheado. Iogurtes infantis carregados de açúcar, smarties, gomas, pintarolas, reginas, fruta em pacote, leite de sabores. Há que começar cedo a educar as papilas gustativas com as iguarias do século XXI.
O chocolate já se foi, o ratinho no estômago também, se calhar o melhor é ir pensando no jantar, que não quero que ninguém passe fome cá em casa.

segunda-feira, maio 08, 2006

Mudanças

Arranquei os panos pretos que tapavam as janelas para não deixar entrar o ar, e cobri com eles os meus cabelos que esvoaçavam ao vento. Arranquei da porta a fechadura que me fechava a casa ao mundo, e apliquei-a na entrada da minha boca para não me deixar fugir. Tranquei-me com sete cadeados iluminados de areia e vento, dobrei-me pelos vincos do ferro e embalei-me para presente. Enchi o baú de selos novos e velhos, de todas as cores e sabores, e esperei que me levassem assim embalada a dar a volta ao mundo dentro do teu coração.